De acordo com os meus cálculos, entre 2000 e 2017 o salário médio real ajustado à paridade do poder de compra cresceu em quase todos os membros da OCDE. Na nossa vizinha Espanha aumentou 6%, ao passo que, por exemplo, na Alemanha, França, Suécia e Irlanda os aumentos foram respectivamente de 14%, 20%, 29% e 35%. Já Portugal e Grécia foram os únicos países em que este indicador diminuiu, mais concretamente 4%. Hoje, em termos comparáveis, Portugal possui mesmo o sétimo salário médio mais reduzido em 35 membros da OCDE; pior só na Estónia, República Checa, Lituânia, Letónia, Hungria e México.

Actualmente, o salário médio no nosso país ronda os 1.150 euros mensais ilíquidos (incluindo subsídios). Se considerarmos o caso de alguém solteiro e sem dependentes a cargo, tal significa um valor líquido em torno dos 900 euros. Por outro lado, as estatísticas do INE demonstram que em Portugal um adulto não idoso e sem dependentes a cargo gasta em média 800 euros mensais com habitação (e despesas associadas), alimentação, saúde, transportes e comunicações. Sobram-lhe somente 100 euros do seu salário para outras despesas que podem incluir, por exemplo, acessórios para o lar, vestuário, calçado, ensino, etc. Como sobreviverão então as 764 mil pessoas que auferem o salário mínimo nacional?

Mas será que os portugueses trabalham tão pouco tempo para que os seus salários sejam tão reduzidos? Ora, num ranking com 34 membros da OCDE, Portugal é o sétimo país em que a média do número de horas semanais trabalhadas por cada trabalhador dependente é mais elevada. Por cá, os trabalhadores por conta de outrem apenas trabalham menos horas semanais do que na Hungria, Polónia, Israel, Chile, México e Turquia. Dá que pensar…

É claro que para se obterem conclusões mais alargadas e aprofundadas devem ser analisados mais indicadores. Ainda assim, há algo que me parece óbvio: em Portugal trabalha-se mais, mas ganha-se menos face à esmagadora maioria dos países da OCDE; o que não abona a favor da qualidade de vida dos portugueses. E era precisamente nisto que os nossos decisores políticos deveriam estar focados: qual é o modelo económico e social que se pretende para o nosso país? Será que nos queremos transformar numa espécie de Bangladesh? Como tornar então a nossa economia mais empreendedora e inovadora? Como tornar as nossas empresas mais competitivas? Como melhorar as qualificações, as remunerações e a qualidade de vida dos nossos cidadãos? Qual é a visão de futuro que existe para Portugal? Ainda vamos a tempo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.