[weglot_switcher]

Do imposto ‘America First’ à subida das taxas do BCE: Os 10 cisnes negros de 2020 do Saxo Bank

O Saxo Bank já escolheu os “dez cisnes negros” de 2020, com uma panóplia de eventos que vão desde a criação de um novo imposto norte-americano baseado no slogan mais conhecido de Donald Trump – “America First”-, a uma subida das taxas de juro pelo Banco Central Europeu, mas entre outros, também uma nova moeda de reserva na Ásia para enfrentar o dólar.
3 Dezembro 2019, 08h00

São dez acontecimentos escolhidos pelos analistas do banco dinamarquês todos com uma característica em comum: são “improváveis, mas subvalorizados” e a “ocorrerem poderiam enviar ondas de choque aos mercados financeiros”. Os “Dez Cisnes Negros” do próximo ano não representam as previsões oficiais do Saxo Bank para 2020, mas funcionam como “um exercício” para ver além do óbvio.

“Vemos 2020 como um ano em que a todo o momento, a disrupção do status quo é um tema predominante. O ano pode representar um grande pêndulo entre opostos em política, política monetária e orçamental e, principalmente, no meio ambiente. Na política, isso significaria o repentino fracasso do populismo, substituído por compromissos de “sarar” em vez de dividir. Na formulação de políticas, isso pode significar que os bancos centrais renunciam e até normalizam ligeiramente as taxas, enquanto os governos entram em conflito com despesa em infraestrutura e os relacionados com alterações climáticas”, explica o economista-chefe do Saxo Bank, Steen Jakobsen.

1. O arrefecimento dos chips com o ‘inverno’ que atinge a Inteligência Artificial

“O índice SOX cai 50%, com a deterioração do crescimento dos ganhos à medida que os investimentos congelam num novo inverno da Inteligência Artificial”. A previsão é de Peter Garnry, head of equity strategy, que aponta para o que aconteceria com uma queda abruta da utilização de chips, depois do boom devido à aplicação em todos os produtos, que levou a uma novo recordo do MSCI World Semiconductor Index em outubro deste ano.

2. A súbita chegada da estagflação recompensa o valor em vez de crescimento

O iShares MSCCI World Value Factor ETF deixa as FANGS em pó, superando-as em 25%. É assim que arranca a previsão de Steen Jakobsen, economista-chefe e CIO, sobre a mudança de ciclo. “Cada ciclo de crédito exigiu taxas cada vez mais baixas e doses maiores de estímulos para evitar uma convulsão total nos EUA e no sistema financeiro global”, refere. Com as taxas de juro em mínimos e os défices orçamentais a fazerem parte do enquadramento macro-económico norte-americana, a ameaça de uma recessão obriga a Fed a aumentar a compra de ativos “além da imaginação para financeira os enormes desembolsos orçamentais de Trump para reforçar as infraestruturas” com o objetivo de conseguir uma reeleição. O analista assinala, no entanto, que “acontece uma coisa estranha: os salários e os preços aumentam acentuadamente à medida que o estímulo avança na economia, “ironicamente devido à falta de capacidade de recursos e mão-de-obra qualificada, devido à falta de investimento anterior. Por sua vez, o aumento da inflação aumenta o custo do capital, colocando as empresas zombeis fora do mercado.

3. Banco Central Europeu regressa às subidas das taxas de juro

Para forçar os governos da zona euro, e principalmente a Alemanha, a adotar e usar a política orçamental para estimular a economia, o BCE reverte a sua política monetária e sobe as taxas de juro a 23 de janeiro de 2020″. A previsão de Christopher Dembik, head of macro analysis, inclui uma subida das taxas de juro pelo banco central, com a sucessora de Mario Draghi a justificar que a manutenção das taxas de juro negativas para depósitos por um longo período pode prejudicar seriamente a solidez do setor bancário europeu. A reviravolta surpreendente, inclui ainda uma segunda subida das taxas de juro pouco tempo depois, o que rapidamente leva a taxa de juro directora para zero e mesmo ligeiramente positiva antes do final do ano.

4. Na energia, o verde não é o novo preto

O petróleo e o gás voltam não só à ribalta, como serão uns “vencedores surpreendentes” em 2020, com a indústria da energia a despertar simultaneamente. “Em 2020, vemos as tabelas voltarem às perspetiva de investimento, à medida que a OPEP estende os cortes de produção, os equipamentos de xisto norte-americano não rentáveis diminuem ao crescimento e a procura da Ásia aumenta outra vez”, sugere Peter Garnry, head of equity strategy.

5. África do Sul “electrocutada” por dívida da ESKOM

E se o governo sul-africano anunciasse que para resgatar a empresa de eletricidade ESKOM em dificuldades “e manter as luzes do país acessos” teria de penalizar o orçamento do Estado? Numa economia com um fraco crescimento, Kay Van-Petersen, global macro strategist, via neste cenário o USDZAR a crescer de 15 para 20 com o mundo a cortar as linhas de crédito à África do Sul. “Pior ainda, o Banco Mundial estima que a dívida externa mais que duplicou nesse período para mais de 50% do PIB. O fiasco da ESKOM pode ser a gota que acabará com a disposição dos credores de continuar a financiar um país que não têm as finanças ou governança em ordem há décadas”, diz.

6. Donald Trump anuncia o imposto “America First” para reduzir o défice comercial

O ano começa com uma relativa estabilidade comercial depois da Administração Trump e a China terem negociado um deianuviamento temporário nas taxas alfandegárias, na política cambial e nas compras dos produtos agrícolas. No entanto, a economia norte-americana a lutar por “ar”, o défice comercial com a China a manter-se e sondagens a indicarem que a reeleição não é um dado adquirido, o presidente norte-americano fica “inquieto” e o governo avança com um último esforço: a criação do imposto “America First”. “Com os termos desse imposto, a lista dos impostos corporativos dos EUA é completamente reconstruída para favorecer a produção interna sob os princípios de “comércio justo e livre””, aponta. Neste cenário, todas as taxas alfandegárias são abolidas e ao invés, impõe um imposto sobre o valor agregado fixo de 25% sobre todas as receitas brutas no mercado norte-americano de produção estrangeira.

7. Suécia entra em recessão 

“Uma enorme e pragmática mudança da atitude toma conta da Suécia à medida que começa a trabalhar para integrar melhor os seus imigrantes e os serviços sociais sobrecarregados, conduzindo um enorme estímulo orçamental e uma forte subida do SEK”, diz Steen Jakobsen, economista-chefe e CIO. Nesta previsão, os políticos ignoram o grande e crescente contingente de suecos que questionam a adopção política da imigração. “A justificação e as intenções eram boas”, realça, no entanto, alerta que “qualquer coisa levada longe demais pode sobrecarregar” e “para sobreviver, todos os modelos precisam ser capazes de mudar quando os fatos mudam”. É que neste cenário, os outros países nórdicos apontam as condições suecas como uma ameaça e não como um modelo de boas práticas, com o país a entrar em recessão.

8. Democratas vencem eleições norte-americanas em 2020, com a ajuda das mulheres e millennials 

A previsão de John J. Hardy, head of FX strategy, coloca os democratas na Casa Branca e no Senado e no Congresso, com mais de 20 milhões de voto. O resultado é impulsionado pela participação feminina e dos millennials, que “surgem para expressar o seu descontentamento com Trump”. Os índices de assistência médica e de farmaceuticas caem 50%, reflexoo do ‘Medicare for all’ e das negociações sobre os preços dos medicamentos.

9. Hungria abandona a União Europeia 

A Hungria tem sido um sucesso económico impressionante desde que entrou no projeto europeu em 2004, “mas o casamento de 15 anos parece estar com problemas após a União Europeia ter iniciado o procedimento do artigo 7 contra o país, citando as restrições cada vez mais rígidas da Hungria – ou mesmo de Viktor Órban – sobre grupos de media, juízes, académicos, minorias e grupos de direitos”. Nesta previsão, a situação entre as partes torna-se insustentável no próximo ano, com Órban a explicar como a Hungria é um “irmão de sangue com a renegada Turquia” em oposição ao resto da Europa.

10. Ásia lança uma nova moeda de reserva afastando-se da dependência do dólar

A receita para enfrentar a crescente rivalidade comercial e diminuir vulnerabilidades da Ásia face ao dólar surge através da uma nova moeda de reserva, denominada Asian Drawing Rigth (ADR), com uma ADR a valer dois dólares, e tornando a nova moeda a “maior unidade monetária do mundo”. Com esta hipótese a acontecer, as economias da região concordaram multilateralmente a realizar todo o comércio da região em ADR, com os principais exportadores de petróleo da Rússia e dos países da OPEP “felizes” devido à crescente dependência do mercado asiático. Com este cenário em cima da mesa, o dólar perde 20% em relação à ADR em meses e 30% em relação ao ouro.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.