De ano para ano, o número de emigrantes a voltar a Portugal ao abrigo do programa “Regressar” continua a crescer. Esta iniciativa do governo português disponibiliza apoios financeiros a quem regressar ao país e, embora represente uma ajuda diferenciadora, é preciso preparação e planeamento para garantir uma mudança suave.

Como tal, vale a pena partilhar algumas estratégias que podem contribuir para um retorno economicamente seguro. Estas são partilhas que derivam de uma experiência pessoal positiva.

A adesão à iniciativa do Governo, o “Regressar”, é, com efeito, o passo que vai fortalecer os alicerces da vinda para Portugal. Este programa, lançado em 2019, traz aos cidadãos – e respetivos familiares – benefícios fiscais concretos, que incluem, por exemplo, uma redução para metade da tributação de rendimentos de trabalho dependente e de rendimentos empresariais.

É um apoio que dura ao longo de cinco anos. Paralelamente, é atribuída uma linha de crédito no valor de 500 mil euros para incentivar a criação do próprio emprego e de novos investimentos. Para quem pondera um regresso pautado por uma (re)adaptação tranquila, esta é, entende-se, uma oportunidade central.

Mas há, reforço, outras dicas que deverão ser adotadas a par da aposta nesta ajuda. Vejamos cinco comportamentos que vão fazer toda a diferença.

Planear o orçamento

O regresso a Portugal deve estar assente numa orçamentação detalhada. Todos os gastos no país devem ser identificados no sentido de assegurar, mensal e anualmente, uma almofada financeira. Custos relacionados com habitação, telecomunicações, educação, saúde, transportes e/ou automóvel, seguros, impostos e quaisquer outras despesas, fixas ou variáveis, devem estar especificadas no orçamento. A ideia é evitar surpresas.

Os compromissos financeiros de montante elevado, em particular, deverão ser cuidadosamente planeados. Por exemplo, o arrendamento de uma casa no momento do regresso poderá ser vantajoso face à hipótese de compra. Do mesmo modo, alugar uma casa mais barata em comparação com o arrendamento de uma habitação “de sonho” poderá, também, fazer mais sentido.

Explorar o mercado de trabalho

De acordo com a área de formação e/ou com a experiência profissional de cada pessoa, é também importante fazer uma pesquisa acerca das oportunidades de trabalho disponíveis em Portugal. Num cenário ideal, regressar-se-ia com um projeto profissional já assegurado. Se tal não for possível, o truque passa por identificar e contactar as empresas que estão a contratar e em crescimento, assim como avaliar as competências atualmente mais valorizadas.

Nas situações em que o teletrabalho for possível, fará sentido acordar com a entidade empregadora no estrangeiro a hipótese de se desempenhar trabalho remoto. Permitir que um colaborador exerça funções remotamente em Portugal até garantir um novo emprego no país pode ser uma boa solução para ambas partes.

Privilegiar o ‘networking’

Mesmo antes do regresso, deve ser (re)construída uma rede social e profissional que amplie as chances de se conseguir uma oportunidade de trabalho. O contacto com antigos colegas e com amigos é essencial neste contexto. Outra boa prática é a participação em eventos, presenciais ou virtuais, que alimentem esta atividade de networking e gerem novos contactos.

(Re)aprender a língua e a cultura

Quanto mais tempo se passa no estrangeiro, especialmente num país em que o idioma oficial não é o português, mais desafiante se torna o regresso. Os cidadãos que estão nesta posição deverão apostar na reaprendizagem da língua portuguesa, quer na forma escrita, quer na forma falada. A rotina de ler jornais, por exemplo, pode ajudar. O mesmo é verdade em relação à cultura e aos ‘costumes’ nacionais. A readaptação aos hábitos e às pessoas – às formas de ser e de estar – poderá levar algum tempo, pelo que deve haver investimento de tempo nesta reintegração cultural. Esta aprendizagem fará uma diferença particularmente grande num contexto de procura de novas oportunidades de trabalho.

Apostar no empreendedorismo ou na requalificação profissional

Caso seja difícil assegurar um posto de trabalho, poderá fazer sentido considerar a possibilidade de explorar o empreendedorismo. Esta seria uma forma palpável de aproveitar o financiamento que o governo atribui para criar o próprio emprego. Evidentemente, deve haver trabalho prévio. É necessário avaliar a viabilidade do negócio idealizado.

Uma alternativa, neste contexto, passa por uma aposta na reconversão profissional. Apesar de implicar um investimento relativamente alto, diferentes escolas e institutos educativos em Portugal oferecem cursos (nas áreas da digitalização, por exemplo) orientados ao desenvolvimento das chamadas “competências do futuro”. O ingresso nestas formações poderá abrir as portas a novas oportunidades no médio prazo.

Apesar do regresso a Portugal ser uma oportunidade empolgante, é necessária uma preparação sólida e uma moderação de expectativas. O importante é recordar que, enquanto se está fora, a vida no país continua. É preciso encarar o regresso do mesmo modo que se enfrenta a chegada a um novo território. A palavra chave é “planeamento”. Com este mindset e com uma consideração pelas dicas partilhadas, dão-se os primeiros passos para um recomeço gratificante em Portugal.