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Empreendedores utilizam ozono para eliminar vírus de carros, quartos de hotel e empresas

“Estás no escritório. Às 18h00, quando todos saírem, ligas o gerador e vais-te embora. Desliga-se automaticamente depois da desinfeção. No dia a seguir, o espaço está desinfetado e estéril a vírus”, explica Diogo Mocho, fundador da Safeway.
12 Novembro 2020, 08h10

O trio de empresários e investidores composto por Diogo Mocho, Tocha e José Serra encontrou no ozono uma oportunidade de conter a pandemia e garantir a segurança em supermercados, hotéis, restaurantes e empresas. Os empreendedores – que já conheciam através da sociedade de capital de risco Olisipo Way – juntaram-se no início deste ano e criaram a startup Safeway para comercializar geradores de ozono e vaporizadores de água ozonizada como alternativas aos desinfetantes químicos que são, por vezes, prejudiciais à saúde.

Oito meses depois de ter sido criada, a empresa está hoje a vender para os Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, África do Sul, Canadá, Suécia e Qatar. O Jornal Económico falou com um dos fundadores para perceber como as empresas e famílias podem higienizar os espaços com ozono e conhecer também os riscos que pode ter se pessoas ou animais estiverem no local durante a desinfeção.

Como é que começaram os estudos científicos que levaram à criação desta empresa?

O Tocha tem uma relação de mais de uma década com a China e nós vimos que esta pandemia não só ia chegar à Europa com força, como chegou, como acreditámos que fosse algo passageiro. Dominamos tecnologia, temos know-how de produto e engenharia e quisemos fazer algo para ajudar o tecido empresarial português, das grandes empresas às pequenas. Comprometemo-nos sempre com dois vértices: segurança e eficácia. Enquanto ainda estávamos a fazer o design de conceção do produto e a engenharia por trás, associámo-nos à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especificamente com o Centro de Testes Covid-19, porque estavam autorizados a manipular o SARS-CoV-2. Depois dos primeiros protótipos fizemos testes e atingimos uma eficácia de 98% na inativação do vírus. Não foram testes de uma hora num laboratório. Há três fases, que incluem parte teórica e investigação. Os resultados dos testes saíram em setembro e vendo-os e vendo o panorama [situação epidemiológica] a piorar começámos a dar a conhecer o produto. E não nos definimos como uma startup, porque não queremos entrar rondas de investimentos, mas sim financiarmo-nos com as vendas.

O que motivou a escolha do ozono?

Começámos por fazer uma análise extensa daquilo que havia no mercado. E o que havia? Soluções aquosas de desinfeção à base de químicos, uma concentração de lixivia, água oxigenada, cloro – ou altamente prejudiciais à saúde humana ou tão diluídos em água que não chegavam a ser eficazes. Pensámos, estudámos com muita incisão e chegámos a uma conclusão: o ozono, além de ser um gás presente na atmosfera, não é um gás saudável para ser diretamente projetado na cara, mas era uma substância utilizada há décadas em salas de cirurgia. Segundo os dados da OMS, da EPA (Environmental Protection Agency) e da FDA (Food and Drug Administration), o ozono é um gás 3.200 vezes mais eficaz a atuar sobre bactérias do que qualquer outro reagente à nossa disponibilidade, como o hipoclorito de sódio, que traduzimos por lixívia. E tem uma grande vantagem económica sobre os outros produtos de que falei: não tem consumíveis além de água e eletricidade.

Porque é que o gerador de ozono é aquele que está a ter maior adesão?

Portugal, o nosso mercado, não está ainda preparado – principalmente com as quebras de faturação – que o “Cabin” ou o “Tunnel” requerem. Apesar de serem produtos com baixos níveis de consumíveis, porque no fundo basta encher um depósito de água ligado à eletricidade, não há muitas empresas no país a poderem fazer esse investimento as we speak. Já o “Places”, que usa ozono enquanto gás, está a ter muito sucesso – e é um ótimo sinal de que as empresas não estão a fechar. Não é para se utilizar com pessoas dentro do espaço. Por exemplo, estás no escritório, às 18h00 quando todos saírem, ligas o “Safeway Places” e vais-te embora, porque ele desliga-se automaticamente depois da desinfeção. No dia a seguir, o espaço está desinfetado e estéril a vírus.

Quando tempo demora esse processo?

Por exemplo, temos alguns alojamentos locais e hotéis a utilizarem a nossa solução e rent-a-cars e stands (há marcas a oferecerem este serviço). Em média, um quarto e um carro demoram cinco minutos cada. Num escritório de 20 metros quadrados demorará cerca de 15 minutos. Temos as tabelas todas feitas, revistas pela faculdade, consoante o débito das nossas máquinas. O gerador atua durante X tempo e depois tem tempo de segurança de Y. Aí é que não se pode entrar no espaço. No caso de um quarto de hotel são entre 45 minutos a 1 hora em que o hóspede não pode entrar.

Quais são os riscos se entrarem?

Se for uma carga de ozono tremenda, que não é o caso, pode ter sintomas como comichões na pele e problemas respiratórios, se for uma pessoa com antecedentes de asma. Não morre de abrir a porta e respirar aquilo um ou dois segundos. Temos um manual do utilizador onde advertimos para não entrar no espaço e aconselhamentos a terem um medidor de qualidade do ar. Nós também levantámos essa questão. Do género: “Ok, estamos a fazer tudo certo, mas e se alguém decide entrar ou tem essa ideia?”. Por isso, associámo-nos à SGS, a principal empresa certificadora no mundo.

A Safeway criou três equipamentos – o Places, o Cabin e o Tunnel – que estão a ser distribuídos pela Altice Empresas em Portugal. Em que diferem?

O Safeway Places tem uma altura de 17cm, 29cm de comprimento, 21cm de largura e pesa menos de quatro quilos e meio. É um gerador que atua durante o tempo necessário à eliminação do vírus no espaço em que se encontra, uma vez que quanto maior o espaço, mais tempo deve estar ligado. É programável para evitar a presença de pessoas e animais no espaço – cerca de 400 euros

O Safeway Cabin foi criado para grandes empresas e é composto por uma cabine robusta própria para edifícios e higieniza e desinfeta quem por lá passa. Antes é medida a temperatura e solicitada a desinfeção das mãos para maior eficácia (uma vez que as mãos estão muitas vezes resguardadas e não disponíveis à desinfeção por vapor). Este processo demora 15 segundos. Em média, por minuto, desinfeta quatro pessoas através de uma micropulverização com água ozonizada (que não é prejudicial à pele e não molha a roupa) – 10 mil euros

O Safeway Tunnel foi concebido para espaços exteriores, hospitais, superfícies de retalho e eventos, onde se verifique um fluxo massivo de pessoas pois tem a capacidade de higienizar e desinfetar simultaneamente até três pessoas em menos de 15 segundos, e até 750 pessoas por hora. Neste aparelho, também é medida a temperatura e solicitada a desinfeção das mãos – 7,5 mil euros

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