A inovação e o empreendedorismo são amplamente considerados como bases importantes para a vantagem competitiva das empresas nos mercados internacionais altamente concorrenciais, contribuindo simultaneamente para a sua competitividade, mas também para o crescimento sustentável da atividade económica e da riqueza das suas nações.

Empreendedorismo refere-se à descoberta, avaliação e exploração de oportunidades no processo de abertura, criação e crescimento de negócios. A inovação está relacionada com o desenvolvimento, adoção e exploração de atividades de valor acrescentado nas áreas económica e social, sendo um fator chave para a competitividade e crescimento das economias. A inovação é, assim, um veículo que difunde e atualiza o conhecimento já existente, servindo como canal, por excelência, para o efeito de spillover do conhecimento para a economia.

O processo de inovação é, por isso, considerado uma das questões críticas na compreensão do crescimento económico.

Sendo difícil garantir um mercado que gere um valor ótimo social na criação de conhecimento, inovação e empreendedorismo, dadas as imperfeições dos “mercados” económico e político, é também difícil obter consenso sobre quais as estruturas institucionais e políticas públicas que melhor podem contribuir para a criação de valor nestas áreas. Isso não impediu que fosse lançado em Portugal, durante a última década, um grande número de mudanças institucionais e medidas de políticas públicas para estimular a criação de conhecimento, da inovação e do empreendedorismo. Embora o número de avaliações de políticas realizadas tenha sido limitado, implicando uma lacuna de conhecimento sobre quais as políticas que realmente funcionam e se efetivamente valem os seus custos, Portugal foi recentemente reconhecido como um “país fortemente inovador”, de acordo com o European Innovation Scorecard, ao nível de França, Bélgica e Alemanha. Um feito a enaltecer, dando boa indicação do caminho que tem vindo a ser percorrido.

Em período de pré-crise económica, o tema é particularmente relevante, uma vez que cerca de metade das empresas da Fortune 500 foram criadas durante períodos de crise. O que aparenta ser paradoxal, na verdade não o é. Em economias desenvolvidas existe um reservatório de conhecimento e invenções técnicas não utilizados, que podem ser transformadas em inovação, usadas e exploradas por potenciais novos empreendedores. A alocação individual de capital humano ao empreendedorismo depende, em grande medida, da situação económica individual e do País.

Se se vier a confirmar uma situação de crise económica, o crescimento do desemprego pode levar à criação de novas empresas, ou seja, a que pessoas desempregadas optem por criar o seu próprio emprego, naquilo que se designa por “refugee effect”. Estando provado que as inovações e o empreendedorismo correlacionam positivamente com o crescimento económico, provocando um efeito circular, através do qual as três variáveis exercem efeitos positivos umas sobre as outras. Uma maior atividade empreendedora e inovação melhoram a atividade económica que, por sua vez, tem efeitos positivos sobre atividades de inovação e empreendedorismo.

Neste período de crise sanitária, a que se seguirão, de forma quase inevitável, crises económica e social, em que os equilíbrios estacionários da oferta e procura foram interrompidos, espera-se, e deseja-se, que se mantenha o efeito circular positivo de: Conhecimento (acumulado) – Inovação – Empreendedorismo – Crescimento – (geração de novo) Conhecimento, em que o ecossistema de empreendedorismo português seja resiliente o suficiente para que, mais do que apenas suster o impacto das adversidades e continuar a crescer, possa dispor dos fatores de produção necessários que permitam transformar o conhecimento acumulado em inovações, e assim continuar a contribuir de forma afirmativa para a atenuação das dificuldades futuras.