Entre julho e setembro, 34% dos empregadores portugueses pretendem aumentar as suas equipas, 18% anteveem reduzir e 45% planeiam manter o seu número atual de colaboradores, de acordo com o ManpowerGroup Employment Outlook Survey, cujas conclusões o Jornal Económico revela em primeira mão.
Os indicadores apurados junto de um universo de 524 empresas mostram um cenário de contenção nas contratações nacionais do terceiro trimestre.
Os empregadores reportam uma Projeção para a Criação Líquida de Emprego de 16% para o período em apreço. O indicador é positivo, mais cai 3 pontos percentuais (pp) relativamente ao trimestre anterior e 2 pp face ao trimestre homólogo de 2024.
A criação líquida de emprego é calculada pela subtração entre a percentagem de empregadores que planeiam contratar e aqueles que antecipam reduções nos níveis de pessoal.
Todas as regiões do país apresentam previsões positivas. Nas cinco regiões consideradas, o Centro e o Sul são as que apresentam as perspetivas de contratação mais fortes. Estas são também as únicas duas regiões que melhoram as suas projeções relativamente ao trimestre anterior e ao mesmo período do ano passado.
Todos os oito sectores considerados pelo estudo projetam uma criação líquida de emprego positiva. As intenções de contratação mais robustas são reveladas pelas empresas de Energia & Utilities e Serviços de Comunicação, com +34% e +30%, respetivamente. Os empregadores de Bens e Serviços de Consumo, Indústria Pesada & Materiais, IT e Transporte, Logística & Automóvel revelam
um abrandamento nas suas intenções de contratação face ao trimestre passado.
Por dimensão de empresa, as microempresas revelam o impacto da incerteza macroeconómica global, com perspetivas de redução de emprego espelhadas numa projeção para a Criação Líquida de Emprego de -15%. Nas restantes categorias de tamanho de empresa a projeção também se mantém positiva.
O crescimento da empresa é a principal razão apontada para a criação de emprego, sendo destacada por 34% dos empregadores. Não obstante, para 38% das organizações, os efeitos combinados da transformação nos modelos de negócio e da digitalização representam também uma das principais motivações de contratação.
Em contrapartida, os empregadores nacionais que projetam uma redução no número de colaboradores no terceiro trimestre destacam os desafios económicos (26%) como principal motivo para reduzir as suas equipas. Também aqui se nota o impacto da transformação digital, com 28% dos empregadores a referir a evolução nas necessidades de competências e/ou a automação como fatores impulsionadores das reduções nas equipas.
Projeções para o mundo
O sentimento de incerteza, resultante da escalada das tensões comerciais, das mudanças políticas e do enfraquecimento das perspetivas económicas, está a diminuir a confiança das empresas a nível global. Resultado? Um abrandamento da dinâmica de contratação, com uma queda das projeções de emprego. Face a este contexto, entre julho e setembro de 2025, a Projeção para Criação Líquida de Emprego global cai para +24%, 1 ponto percentual abaixo do registado no último trimestre.
Na região EMEA (sigla para Europa, Médio Oriente e África) em Portugal se integra, a projeção é de 24% e para Portugal, como referimos anteriormente, é de 16%. O abrandamento é maior. “O sentimento em Portugal revela um maior pessimismo e o país encontra-se na metade inferior de todos os países analisados, no que respeita às suas expectativas de emprego”, salienta o ManpowerGroup Employment Outlook Survey.
Alguns mercados emergentes contrariam a tendência de abrandamento, continuam a registar um crescimento do emprego. Alimentada por países como a Costa Rica (+41%) e o Brasil (+33%), a região da América do Sul e Central, com uma Projeção de +24% é a única região analisada a apresentar uma evolução positiva entre trimestres, ainda que ténue, aumentando de 1 ponto percentual.
Nesta edição do ManpowerGroup Employment Outlook Survey, foram questionados 40,671 empregadores, de 42 países, entre os quais Portugal.
Rui Teixeira
Country Manager do ManpowerGroup Portugal
Nas intenções de contratação entre julho e setembro, o sentimento em Portugal revela um maior pessimismo e o país encontra-se na metade inferior de todos os países analisados, no que respeita às suas expectativas de emprego. Que fatores ajudam a explicar este sentimento?
Para o terceiro trimestre do ano, a Projeção para a Criação Líquida de Emprego em Portugal fixa-se nos +16%, um valor 3 pontos percentuais abaixo do trimestre anterior e 2 pontos percentuais abaixo do registado no mesmo período do ano passado. Face a este cenário, o sentimento mais pessimista em Portugal das intenções de contratação entre os meses de julho e setembro pode ser explicado por um conjunto de fatores, de natureza política e macroeconómica, tanto a nível nacional como internacional.
Em primeiro lugar, importa referir que estas respostas foram recolhidas em abril, um período marcado por uma instabilidade política interna, com a queda do Governo e a convocação de eleições antecipadas, cenário ao qual se juntou o agravamento das tensões geopolíticas e comerciais, nomeadamente com o anúncio de novas tarifas por parte dos Estados Unidos. Paralelamente, Portugal, sendo uma economia pequena, é fortemente exposta ao abrandamento económico de outros países e parceiros comerciais, como Espanha, França e Alemanha, que enfrentam também desafios económicos significativos.
Além disso, as previsões macroeconómicas mais recentes reforçam esta cautela. O Fundo Monetário Internacional reviu em baixa o crescimento do PIB português para 2%. Ao nível europeu, a tendência é igualmente sensível: tanto a OCDE como o BCE e o próprio FMI preveem um crescimento reduzido da economia da zona euro, com a Alemanha praticamente estagnada e a França a crescer pouco.
Neste contexto, o menor otimismo dos empregadores portugueses relativamente à contratação é resultado de uma combinação de fatores externos adversos, instabilidade política interna e previsões económicas pouco animadoras. Isto justifica, assim, a colocação de Portugal na metade inferior dos países analisados no que toca às expectativas de emprego para o terceiro trimestre do ano.
Este sentimento pode significar algum arrefecimento do mercado de emprego português no segundo semestre de 2025?
A visibilidade do ManpowerGroup Employment Outlook Survey é para os próximos três meses do ano, pelo que não temos dados concretos que nos permitam antecipar a evolução para o último trimestre do ano, sobretudo no contexto atual de elevada volatilidade.
Contudo, mantendo-se o atual contexto de instabilidade global e de incerteza generalizada e enfraquecimento das perspetivas económicas, iremos continuar a assistir a uma maior cautela por parte dos empregadores, o que se traduz num abrandamento da dinâmica de contratação, que será cada vez mais cirúrgica e estratégica para posições e competências que permitam às empresas gerir a mudança e preparar o futuro.
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