Definitivamente, os tempos são outros. Até no emprego.
Algum tipo de trabalho sofre significativamente com a pandemia, como o relacionado com o turismo e todas as atividades que deste setor dependem. Todo o trabalho que gravita em torno da movimentação de pessoas foi posto em causa: alojamento, hotelaria, restauração, transporte de pessoas são alguns exemplos. Com as medidas de desconfinamento, estas atividades têm vindo a experimentar um progressivo alívio.
O número de portugueses inscritos nos centros de emprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional atingiu o número de 432 mil e oitocentos, o valor máximo que só se observou em maio de 2017, em plena fase descendente do pós período da Troika, em que o mesmo indicador chegou a ultrapassar os 740 mil em janeiro de 2013.
Pela evolução do que se vem passando mesmo à nossa frente, todos os dias, poderíamos esperar um incremento no desemprego muito mais elevado do que se tem vindo a verificar. E, sinceramente, não estamos a salvo de um agravamento da situação, sobretudo se a recuperação económica for mais lenta do que nos restantes países da zona euro. Isto, porque se espera que as medidas macroeconómicas, nessa zona, não serão tomadas “à medida” de cada país (como já sabemos, a zona euro é tudo menos um espaço geográfico uniforme a todos os níveis, seja económico, social e mesmo político).
Mas observemos as estatísticas respeitantes à qualificação da população portuguesa. Ainda muito abaixo dos níveis de países parceiros da União Europeia, Portugal tem vindo a observar um aumento progressivo do número de licenciados sobre o total da população: de 6,5% no início do século para 21,2% em 2020. A média da União é de 32,5%. Com muitos países acima do dobro do valor português, o que muito explica sobre o que se verifica relativamente ao desenvolvimento mais acelerado de alguns países (sobretudo a leste) em comparação com Portugal.
Mas, que possibilidades dá o nível de escolaridade da população? Mobilidade no emprego a nível global. Ainda sem encontrarmos estatísticas consistentes sobre o fenómeno, proliferam exemplos de jovens que viram no boom do teletrabalho oportunidades de emprego que, até há bem pouco tempo, não existiam.
Porque, efetivamente, há trabalho altamente qualificado que se faz sem sair de casa, sem sair da cidade, sem sair do país, e para empresas que ficam sediadas a muitos milhares de quilómetros de Portugal. Postos de trabalho cuja remuneração é bastante atrativa para o empregador (quando comparado com o nível salarial do país de origem da empresa), e bastante atrativa para o trabalhador (quando comparado com o nível salarial do país do assalariado).
Técnicos analistas de dados, programadores, gestores nas áreas de cibersegurança, técnicos de auditoria, gestores de risco, designers, analistas de negócios, auditores, responsáveis de suporte tecnológico, profissionais de saúde, gestores de marketing de serviços, business developers, analistas financeiros, são apenas alguns dos muitos exemplos de profissionais qualificados cujo mercado de trabalho passou a ser o mundo inteiro… sem sair do país.
Ou mesmo, para os que pretendem adotar uma vida diferente da dos indivíduos ativos de gerações anteriores: os apelidados “nómadas digitais”. Que escolhem trabalhar através dos meios digitais, escolhendo o seu espaço físico para viver de forma não fixa, procurando cada local consoante a sua preferência e atratividade.
É um desafio às estatísticas do emprego. Mas também é um desafio para as autoridades fiscais, sobretudo quando se trata de tributar o rendimento proveniente do trabalho. Mas é, acima de tudo, uma oportunidade para os mais jovens que não encontram trabalho no seu país, e que, nem por isso, necessitam de emigrar.