Os impactos da crise sanitária não param de aumentar, volvido pouco mais de um ano de o SARS-CoV-2 ter vindo alterar o que até então entendíamos por ‘normal’.

Em Portugal, o número oficial de desempregados voltou a agravar-se pelo terceiro mês consecutivo e regista agora o valor mais elevado desde o início do surto epidemiológico. Parecendo estar esta crise longe do fim, urge mais do que nunca impulsionar políticas públicas que contribuam para o robustecimento da nossa economia, mediante, nomeadamente, a transição para a diversificação da capacidade produtiva assente em setores como o emprego verde ou inovação.

Desde 2017 que não se verificava um tão elevado número de desempregados inscritos nos centros de emprego. Um fenómeno para o qual contribuíram todos os grupos etários, mas que varreu também todo o país sem exceção, ainda que de forma mais pronunciada no Algarve (+74,4%), Lisboa e Vale do Tejo (+52,9%) e Madeira (+30,4%), tradicionalmente mais dependentes do turismo, um dos setores mais afetados por esta pandemia.

São conhecidos os cenários que apontam para o facto de o nosso país ser um dos mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas e ao aumento de fenómenos extremos como as ondas de calor, secas prolongadas e stresse hídrico. Ingredientes que podem influenciar negativamente atividades como o turismo ou a agricultura.

Ora, as projeções, baseadas num aumento da temperatura global de 1,5°C até ao final deste século, sugerem que, em 2030, 2,2% do total de horas de trabalho a nível mundial serão perdidas devido a temperaturas mais elevadas, uma perda equivalente a 80 milhões de postos de trabalho a tempo inteiro ou a perdas económicas globais de 2.400 mil milhões de dólares! Estes números devem não só preocupar-nos, como também inquietar mesmo os mais descrentes quanto à crise climática.

Ainda que das medidas de mitigação das alterações climáticas possa resultar uma perda de cerca de seis milhões de postos de trabalho a curto prazo, uma transição para uma economia mais sustentável mais do que compensará ao criar cerca de 24 milhões de novos empregos a nível mundial até 2030.

Estes novos empregos serão o resultado de práticas sustentáveis no setor energético, incluindo mudanças no cabaz energético, promoção do veículo elétrico e da eficiência energética dos edifícios; 2,5 milhões de empregos serão gerados na produção de eletricidade de fontes renováveis, compensando cerca de 400 mil empregos perdidos na produção de eletricidade de origem fóssil.

Da transição para uma economia circular, estima-se que deverão ainda resultar seis milhões de empregos, abrangendo atividades como a reciclagem, a reparação, o aluguer e a refabricação, como alternativa ao atual modelo produtivo de extração-descarte. Estratégicos apresentam-se igualmente os serviços dos ecossistemas, que suportam atividades como a agrícola, florestal e turística e empregam 1,2 mil milhões de trabalhadores em todo o mundo.

Considerando o potencial da economia verde, por que esperamos então?