“Em 2017, 97% do aumento líquido do emprego por conta de outrem foi gerado nas empresas. As empresas criaram novos postos de trabalho para mais de 169 mil trabalhadores. Se a taxa de desemprego está hoje abaixo dos 8%, é porque as empresas geraram mais emprego”. Esta é a frase-chave do discurso de António Saraiva no Congresso Anual da CIP, e foi proferida logo na abertura do discurso. No entanto, não foi a frase que a generalidade dos media puxaram para título das notícias sobre o evento que decorreu em Santa Maria da Feira.

Preferiram dar destaque a outra frase no final do discurso em que o Presidente da CIP criticou o que considera ser a falta de apoio do Governo ao esforço das empresas, criticando designadamente o aumento da carga fiscal. Este é o problema quando um discurso tem mais do que uma mensagem. O princípio editorial da maioria dos media, “bad news is good news”, prevalece sempre (impostos, críticas ao Governo), de tal modo que o New York Times tem uma secção dedicada a boas notícias, titulada “nem tudo é mau”. A boa notícia saiu prejudicada – aumento do emprego por ação da iniciativa privada. Nem mesmo o site da CIP puxou aqueles significativos números para título do comunicado que emitiu, preferindo uma afirmação anódina: “CIP afirma o mérito das empresas na recuperação económica do país.”

É certo que as empresas têm todo o mérito na recuperação da economia. Segundo dados do INE, a que o Financial Times deu relevo numa análise de Portugal pulicada há duas semanas, “essencialmente, todo o crescimento desde 2013 teve origem no setor corporativo não financeiro. Tanto o investimento em infraestruturas como na construção mantiveram-se nos deprimidos níveis pré-crise.” Esta tendência é positiva, segundo o FT: “Se se acredita que o capex das empresas é mais propício ao aumento da produtividade – e, portanto, crescimento de longo prazo – do que outras formas de investimento, isto seriam boas notícias para Portugal nos próximos anos.”

Para se ter uma noção do que representa este investimento, repare-se que em 2013 o investimento real em Portugal fora 12% inferior ao década de 90 do século passado. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, António Saraiva realça precisamente este ponto. Essencialmente, são as empresas que investem. Mais de dois terços do investimento em Portugal é realizado pelas empresas, disse. Em 2017, 58% do acréscimo do investimento veio das empresas e só 25% do investimento público. Assinalou também que, em 2017, Portugal atingiu o maior nível de crescimento económico em 17 anos por mérito das empresas: são elas que produzem, inovam e exportam.

Todos os meses, os jornais americanos – e de muitos outros países, entre os quais Portugal – dão destaque ao número de postos de trabalho criados  nos EUA. Vão ao que é importante e esclarecedor. Aqueles números são um benchmark da saúde da economia, que revelam a maior ou menor confiança dos empregadores sobre a evolução dos negócios, a sua expetativa em relação a encomendas.

Por isso, parece-me que mais que todas as ilações que se possam fazer sobre o indesmentível mérito dos empresários e empreendedores portugueses, aqueles números sobre criação de novos postos de trabalho para os portugueses são o mais simples e melhor indicador da importância social das empresas privadas, responsáveis por dois terços do emprego total e que empregam mais de 80% dos trabalhadores por conta de outrem, como referiu Saraiva.

Estudos revelam que há duas coisas que fazem as pessoas sentir-se ricas: ser proprietário da sua casa e ter emprego. Aquilo que interessa de facto à generalidade dos portugueses é saber se vão manter o emprego ou se vão encontrar emprego, de preferência a ganhar mais que o salário mínimo. Por isso, aqueles números sobre o aumento líquido de emprego são, a meu ver, particularmente úteis para explicar instantaneamente o papel fundamental das empresas portuguesas na criação de riqueza para toda a sociedade.

Creio que há um problema de comunicação por parte das instituições representantes das empresas e das próprias empresas portuguesas. A ideia que tenho é que falam em circuito fechado, enviando mensagens para os poderes públicos, eleitos e não eleitos, para a opinião publicada e para putativos investidores estrangeiros. Não falam diretamente para a opinião pública, não estabelecem uma conversa pública, utilizando a televisão, websites interessantes e úteis e as redes sociais.

O exemplo acima é, quanto a mim, esclarecedor de uma oportunidade mal aproveitada para trazer até às pessoas uma mensagem qualificada sobre quem promove e oferece emprego – mais evidente ainda num momento em que o Estado não só não aumenta os salários dos funcionários públicos ou congela as chamadas progressões, como desenvolve uma política que, objetivamente, desincentiva o emprego público.

Não basta falar de “economia” um conceito que, creio, diz pouco à generalidade da opinião pública, desde logo porque poderá ser reduzido ao significado “contexto em que os patrões ganham dinheiro”. É preciso explicar a economia no contexto do quotidiano das pessoas. O que está em jogo é o indivíduo português e a sua família, não é nem a economia nem Portugal.

Estudos de opinião que fiz no século passado revelaram que “Portugal” é uma noção ténue, que se manifesta com vigor quase só quando há vitórias no futebol. É provável que esta tendência se mantenha. O que interessa aos portugueses é a vida de cada um, indivíduos que calhou nascerem e crescerem neste pedaço do mundo. Se Portugal tiver de ficar para trás, 70 em cada 100 desempregados não hesita. Segundo estudo recente do Eurostat, 70% dos desempregados portugueses emigraria se pudesse, o valor mais alto da UE. Os espanhóis estão em segundo lugar com 63%.

Na minha opinião, as instituições empresariais fariam bem e deveriam falar diretamente para a opinião pública e, sem temores, defender e explicar por que razão os valores da iniciativa e propriedade privada nas democracias liberais são úteis, indispensáveis e necessários ao progresso dos cidadãos e das suas famílias.