Com a sua realidade – a norte-americana – como referência, Peter Drucker reconhece que as organizações sem fins lucrativos se preocupam muito com o dinheiro, porventura até mais do que as empresas. Contudo, desculpa-as, porque para muitas destas organizações é difícil de o angariar, e existe sempre em menor quantidade do que necessitam para fazer face a tantos desafios.
Apesar deste foco no dinheiro, o autor frisa que a estratégia nas organizações sem fins lucrativos não se centra no dinheiro, mas no cumprimento da missão. As melhores organizações sem fins lucrativos, escreve, dedicam muita atenção à definição da missão, definem a sua estratégia com esse propósito em mente, focando a organização na ação e tornando-a disciplinada.
Para cumprir a sua missão têm de se focar no contexto e em como podem contribuir para melhorar a sociedade e ajudá-la a responder a diversas problemáticas. Por isso, as melhores querem saber qual o real impacto que têm nas comunidades que servem, com todos os desafios que tal medição significa.
Ora, as empresas, segundo Drucker, sobretudo as maiores, dispersam muitas vezes a atenção em várias coisas que parecem ser interessantes e lucrativas, em vez de se dedicarem a um conjunto restrito de esforços realmente produtivos. Perdem muitas vezes de vista quem servem, elegendo outros públicos e interesses como prioritários.
Hoje, mais do que no passado, as empresas são desafiadas a aportar à sociedade valor que vá além do económico. Por isso, atualmente as organizações sem fins lucrativos podem ensinar as empresas ainda mais. A missão destas coincide com uma causa que pode ser social, educacional, cultural, de defesa de direitos humanos, de defesa do ambiente, etc.
Hoje as empresas são desafiadas a desenvolver atividades que vão ao encontro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. E são avaliadas por referência a critérios ESG, que as desafia a agir nas áreas do ambiente, do social e da governança. As organizações sem fins lucrativos perseguem missões nessas áreas. São potenciais parceiras que podem ensinar e partilhar experiências.
Mas se as empresas podem aprender com as organizações sem fins lucrativos, o inverso também é verdadeiro. As empresas mobilizam recursos para produzir bens e serviços, e se não correspondem aos desejos dos clientes não vendem. Se não correspondem às expetativas de retorno dos seus sócios ou acionistas, perdem a sua confiança e no limite, o seu capital. As organizações sem fins lucrativos boas podem ser eficazes (i.e., fazer as coisas bem) porque compreendem a relevância da missão. Mas têm de ser eficientes também, para o que saber gerir recursos – materiais, financeiros, etc. – e pessoas é vital.
As organizações sem fins lucrativos têm muito a aprender com as empresas e com as pessoas com experiência de gestão. É importante que a aproximação entre estes dois mundos aconteça