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Empresas investem mais de 160 milhões na canábis medicinal

Negócio a que chamam ‘ouro verde’ já tem quatro ‘players’ em Portugal e as previsões apontam para a criação de 750 novos postos de trabalho.
27 Abril 2019, 10h00

O negócio da canábis medicinal está a crescer e já existem quatro empresas a plantar aquilo a que muitos chamam ‘ouro verde’ em solo português.

Atualmente, a nível internacional, este mercado está avaliado em cerca de 200 mil milhões de dólares (cerca de 174 mil milhões de euros ao câmbio atual). Em Portugal, foram investidos, até à data, 160 milhões de euros, mas este valor pode vir a aumentar depois do acordo entre os investidores da Terra Verde ser  finalizado, segundo apurou o JE.

Ao todo, serão criados 750 novos postos de trabalho que variam desde a mão-de-obra agrícola à especializada (farmacêuticos, biólogos e engenheiros químicos).

A legalização do uso de canábis para fins medicinais foi aprovada em junho de 2018 e a regulamentação publicada em Diário da República a 15 de janeiro de 2019.

A regulamentação estabelece que o cultivo, fabrico e comércio da canábis para fins medicinais só pode ser feito depois de autorização do Infarmed, que deve ser atualizada todos os anos. Caso seja recusada, os produtores estão sujeitos ao pagamento de coimas que podem ir dos 1.500 aos 3.700 euros, no caso de pessoas singulares, e entre três mil e 45 mil euros no caso de pessoas coletivas.

A primeira a obter a autorização de produção foi a Sabores Púrpura, sediada em Coimbra, mas com duas plantações em Tavira. Em declarações ao JE, a empresa que iniciou atividade em 2012 “prevê um investimento global do projeto de cerca de 100 milhões de euros, tendo já sido consideradas neste investimento as novas regulamentações relativas a medicamentos à base de canábis”. Além disso, confirmaram ao JE a abertura de 400 novos postos de trabalho.

A empresa mantém contactos comerciais com 28 países mas ainda não vende “produtos, na medida em que só nos foi recentemente atribuída a licença”, explica o CEO da empresa, Miguel Pereira da Silva. Apesar de tudo,  a Sabores Púrpura escolheu o solo português como palco principal, argumentando que “Portugal é o melhor país do mundo para se produzir produtos agrícolas de qualidade. A canábis não é excepção”.

Com sede em Sintra, a RPK Biopharma, subsidiária do grupo Holigen, vai instalar a sua primeira fábrica em Aljustrel, num terreno de 72 hectares, depois de 18 meses a estudar o negócio.

Segundo a imprensa internacional e local, depois de obter a licença por parte da Infarmed para a produção de mais de 500 mil quilos por ano de canábis, esse grupo investiu 40 milhões de euros na nova fábrica e prevê a abertura de 150 novos postos de trabalho. A canadiana Flowr detém 19% do projeto.

Também canadiana é a Tilray, a empresa de Brendan Kennedy, fundada em 2010, que investiu 20 milhões euros na sua primeira fábrica em Cantanhede, cuja abertura está prevista para 24 de abril. A unidade tem uma extensão de mais de 70 mil metros quadrados e vai contratar 200 novos trabalhadores. Um deles é Jaime Gama, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de António Guterres, que será o consultor de produção de canábis da Tilray.

A Terra Verde completa o quarteto da ‘erva’, tendo começado a produção da planta em 2014, em Setúbal.

O projeto de investimento da Terra Verde, no Montijo, ainda não tem um “formato concluído”, dado estar a decorrer a negociação com os seus futuros sócios estrangeiros, soube o JE junto de fontes que acompanham estas negociações. No entanto, a unidade da Terra Verde já dispõe das infraestruturas para o início da produção de canabinóides destinados a serem utilizados pela indústria farmacêutica.

O ex-ministro e fundador do PSD, Ângelo Correia, entrou recentemente no capital deste projeto, tendo adquirido uma participação de 40%. O JE sabe que o valor total deste investimento ainda não está decidido, mas poderá ultrapassar duas dezenas de milhões de euros.

Quanto ao número de pedidos de licenciamento e comercialização da planta medicinal, o Infarmed diz que, apesar de “ainda serem poucos”, não pode divulgar o número de pedidos realizados dado a possibilidade para tal ser ainda recente.

Artigo publicado na edição nº 1984, de 12 de abril, do Jornal Económico

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