As próximas décadas serão pródigas em desfasamento de agilidades digitais entre competências individuais e capacidades empresariais, as quais têm impacto direto na competitividade do nosso país.

As razões?

Simples. Vivemos numa fase entre duas gerações no mercado de trabalho: os nativos digitais, abaixo dos 25 anos, que iniciam agora a sua carreira profissional, e os baby boomers, acima dos 50 anos, que ainda têm quase duas décadas de atividade profissional ativa.

Os baby boomers nasceram a aprender a escrever num papel, com um lápis ou caneta na mão, e numa máquina da Regisconta (quem não se recordar desta marca, não é desta geração), que era o avanço tecnológico de muitas gerações.

Os nativos digitais nasceram a escrever em computadores e com papel, mas a sair escrito numa impressora, e a procurar informações em smartphones na mão. O maior atraso tecnológico das crianças é a máquina de calcular, que poderemos considerar como o princípio do fim do raciocínio e cálculo matemático dos nossos cérebros.

Há algum mal na evolução tecnológica? Não!

O que é que afeta na competitividade das empresas? Tudo! E do nosso país? Tudo e mais alguma coisa!

Quem tem mais experiência sobre a realidade empresarial? Os baby boomers. Quem está mais preparado para os próximos desafios competitivos empresariais? Os nativos digitais. Tendo por base estas informações, entende-se como mais-valia integrar todas as gerações nos projetos.

Vamos por partes e de forma simplificada.

A evolução tecnológica é imparável, com vantagens claras nas eficiências económicas que incorpora em todos os ecossistemas, desde que utilizadas em prol de bem comum e não de interesses meramente individualistas.

Só sobreviverão aquelas empresas que conseguirem ter uma cultura de investimento e evolução contínua em tecnologias, assumindo que este é um jogo infinito e com aumento constante na velocidade de produção e entrega de serviços.

A evolução contínua em tecnologias não passa por colocar tecnologia na empresa e esperar que “tudo mude para melhor”. A tecnologia em si não interessa, o que interessa é o que se faz com ela.

E é aqui que está o âmago da questão, pois os nativos digitais sabem usar a tecnologia, mas não a sabem aplicar à realidade do negócio. Os baby boomers sabem pouco de tecnologia e do seu potencial, mas conhecem o negócio há anos, pois têm um conhecimento adquirido não explícito muitas vezes, mas que é diferenciador. Conhecimento é um ativo intangível nas empresas, o qual tem de ser retido e potenciado.

A competitividade das empresas, a maioria com décadas de história, não passa pela renovação rápida de equipas, substituindo os de 50 ou mais anos, simplesmente por jovens de 25 anos. Passa essencialmente pela capacidade de transformar o conhecimento adquirido em processos digitais e de controlo. Passa pela integração e criação de equipas mistas entre nativos digitais, com (quase) ADN de bits e bytes, e os baby boomers, com o ‘óleo nas mãos’.

Quem souber criar estas condições, quem souber criar estas culturas de inovação e integração, certamente terá mais vantagens competitivas e agilidades para singrar, durante mais tempo, na competição infinita dos mercados empresariais.

E no país? Um país vejo-o essencialmente como uma empresa, com a diferença da longevidade esperada. Saber fazer transições digitais de recursos, dar valor àqueles que já contribuíram mais historicamente para o PIB, investindo efetivamente em modelos de qualificação tecnológica, tal como apostando em competências digitais mais avançadas desde o ensino básico (não desprezar fatores sociais e de contacto com natureza – pois há essa tentação de criar “animais antissociais”, uma espécie de robôs dos tempos modernos) é fundamental. Só assim teremos um país competitivo.

Não nos preocupemos em cortar fitas de inaugurações amanhã, mas façamos investimentos estruturais na Educação e Formação. Teremos mais e melhores empresas no futuro, com a consequência natural: um país competitivo!

Termino como comecei: a capacidade de competitividade do país passará por saber criar as fundações para as agilidades digitais nas competências individuais e capacidades empresariais. Foquemo-nos nisso estrategicamente. Saibamos fazer, para lá de apenas pensar ou sonhar.