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Empresas preparam novas soluções de automação com software de robótica

A tecnologia de RPA – ‘Robotic Process Automation’ deve evoluir para um formato de ‘Intelligent Automation’ facilitando a deteção de falhas e anomalias em processos automatizados e ajudando o tratamento de dados não estruturados.
  • Rick Wilking/REUTERS
23 Março 2019, 18h00

1: Como é que a robótica tem alterado a estrutura organizacionalde uma empresa e a rotina dos seus colaboradores?

2: Em que medida é que a tecnologia RPA irá continuar a evoluir?

Paulo Pena, Diretor de Consulting Services da CGI

1- A Robotic Process Automation (RPA) é uma das tecnologias de transformação digital que permitem a robotização de tarefas de rotina repetitivas inseridas em contexto de negócio. A um nível mais avançado, as tecnologias de Intelligent Automation permitem ainda um maior aumento da eficiência das ações humanas. Com a criação de robôs de software para replicar processos administrativos normalmente realizados por trabalhadores humanos, estamos, de facto, a criar um digital worker e uma força de trabalho virtual. Esta força de trabalho virtual permite realizar tarefas repetitivas de uma forma mais eficiente, rápida e de menor custo do que a de uma força de trabalho humana. Com isto não queremos dizer que, neste processo de redução do esforço humano no conjunto de tarefas repetitivas, os robots vão preencher os postos de trabalho existentes. As empresas que implementam tecnologia RPA de uma forma efetiva tendem a deslocar a força de trabalho humana para tarefas baseadas em conhecimento de negócio. O sucesso de uma transformação RPA depende igualmente deste fator humano de conhecimento.

2- Tem muito espaço para evoluir, tanto ao nível de penetração desta tecnologia nas empresas, como na forma como é utilizada. As áreas de utilização não se limitam a tarefas repetitivas de elevado volume, mas também a tarefas repetitivas que envolvam dados sensíveis ou tarefas repetitivas sujeitas a riscos de fraude. Nos próximos tempos, espera-se que a tecnologia RPA evolua para um formato de Intelligent Automation (em que estão em causa as tecnologias vulgarmente conhecidas por AI), podendo, numa primeira fase, ajudar na evolução em tarefas específicas como um melhor tratamento de dados não estruturados ou na deteção de falhas e anomalias em processos automatizados.

Licínio Antunes, Senior Manager da Noesis

1- No caso particular da Noesis, que tem uma equipa especializada na área, temos vindo a demonstrar aos clientes que é possível automatizar grande parte dos processos de negócio. Com recurso a software de Robotic Process Automation (RPA), temos apoiado os nossos clientes na automação de processos repetitivos ou de alto risco, bem como funcionalidades expostas a erro humano ou que requeiram muito tempo e esforço na sua execução manual. Esta automação leva a que os colaboradores e/ou equipas que habitualmente executavam estas tarefas sejam deslocados para funções mais desafiantes para si e mais importantes para as organizações. Esta tendência aumenta a rentabilidade e contribuiu para o desenvolvimento profissional de cada colaborador – uma situação de win-win.

2- De acordo com a Gartner, verifica-se um crescimento de 20 a 30% em RPA a cada trimestre, o que reflete a valorização desta tecnologia dentro das organizações. A Noesis vê esta evolução por fases: em primeiro lugar, a consolidação de conhecimentos, em que são automatizados alguns processos organizacionais e as equipas são preparadas para utilizar RPA em diversas tecnologias. Em fases seguintes, já com a integração de machine learning e inteligência artificial, prevemos que os robots desenvolvidos sejam dotados da capacidade de tomada de decisão de acordo com o histórico guardado, o que contribuirá para uma maior produtividade e rentabilidade, e libertará as equipas para a execução de tarefas complexas e motivadoras.

Patrick Götz, Fundador da Teckies

1- A robótica está cá para ficar e as mudanças são evidentes. Se por um lado as empresas se sentem impelidas a integrá-la mais no seu day by day, também terão de apostar em colaboradores que estejam capacitados para trabalhar com ela. Mais do que eliminar postos de trabalho, acredito que vai exigir reajustes. As empresas vão continuar a precisar de humanos, mas eles terão de se adaptar e de trabalhar com a robótica. Já são inúmeras as aplicações e os setores nos quais são usados robôs. A Amazon recorre a eles nos armazéns e planeia fazer entregas com drones; a cadeia americana Lowe’s desenvolveu um robô de atendimento ao cliente e as formas de pagamento têm mudado, sendo que, de futuro, não serão necessárias caixas registadoras. Com esta massificação, o responsável da loja terá de saber algo de robótica e programação, mas nos dias de hoje ainda são uma minoria os profissionais que têm estas competências. De uma forma geral, acredito que se vá notar uma redução no número de colaboradores, mas estes serão muito mais especializados e qualificados.

2- Creio que existe ainda bastante espaço para a tecnologia RPA crescer, desde logo pelas inúmeras vantagens já sobejamente conhecidas para as empresas que a implementam, o que nos permite antever um quadro onde, tendencialmente, a penetração desta tecnologia no tecido empresarial mundial será ainda maior, tanto em número como em setores. Em paralelo, a própria tecnologia possui um significativo potencial de evolução tornado possível pelos mais recentes avanços em áreas como machine learning, big data¸ a cloud ou na tão propalada IA. Estas novas tecnologias emergentes podem acrescentar muito valor à RPA e, até, serem condição necessária para a sua evolução.

Luís de Matos, CEO da Follow Inspiration

1- A robótica tem sido um instrumento fundamental no processo de otimização da eficiência das empresas, permitindo, por um lado, reduzir custos e, por outro, aumentar o valor acrescentado dos seus produtos. Em termos organizacionais, a robótica tem ainda contribuído para a agilização das mesmas, atuando com equipas mais pequenas e entrosadas.

Nos dias que correm, assistimos a um crescimento exponencial do número de robôs colaborativos, ou seja, que interagem com os colaboradores de determinada empresa facilitando o seu trabalho. Desta forma, a rotina dos colaboradores está centrada em tarefas de elevado valor acrescentado, sendo necessário que os mesmos acompanhem esta evolução no sentido de estarem preparados para realizar tarefas diferentes ao longo da sua carreira e com crescente grau de dificuldade intelectual.

2- O RPA tem sido adotado em inúmeras empresas permitindo executar tarefas rotineiras de forma rápida, automática e descomplicada. Na minha opinião, a tecnologia RPA vai evoluir significativamente em ambientes nos quais os colaboradores não consegue dar resposta de forma tão célebre, nomeadamente, em ambientes extremos (muito calor, fumo, humidade, etc.) ou ainda em tarefas nas quais o olho humano não tem uma capacidade tão efetiva, por serem tarefas bastante minuciosas, recorrendo assim à área de computer vision.

Luís Timóteo, Head of Custom Software Pratice da Capgemini Portugal

1- A robótica ou de um modo mais abrangente as tecnologias de automação, permitem às organizações aumentos de eficiência operacional, criando novas oportunidades de receita e introduzindo melhorias no serviço ao cliente. Contudo, para que tal aconteça as empresas necessitam de escalar a adoção de robôs a toda a organização criando sinergias e introduzindo inovação nos processos de negócio. À medida que a tecnologia vai sendo introduzida, algumas tarefas vão sendo eliminadas e novos métodos de trabalho e de colaboração vão sendo adotados, obrigando as organizações a reformular equipas e a reorganizar departamentos, imprimindo uma maior flexibilidade e agilidade nos processos de negócio.

 

2- Na grande parte das organizações a tecnologia RPA é ainda utilizada maioritariamente para a automatização de regras e processos de negócio, com um foco no aumento da produtividade. Contudo, e com a evolução da tecnologia nas áreas da inteligência artificial e das soluções cognitivas, as organizações podem desde já incorporar nos processos de negócio soluções de processamento de linguagem natural, biometria inteligente, visão computacional, entre outras, obtendo benefícios tangíveis para o negócio. As empresas que iniciarem desde já a incorporação destas soluções nos seus processos de negócio, estão em melhor posição para adquirirem vantagens competitivas importantes no ecossistema onde atuam.

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