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Empresas satisfeitas com dívida sustentável querem manter aposta

Os emitentes portugueses de obrigações verdes, híbridas ou títulos de dívida indexados a critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) fazem uma análise muito positiva das operações feitas, pelo que representam na concretização de políticas de investimento sustentável, mas também pela competitividade face a outras formas tradicionais de financiamento.
31 Outubro 2021, 18h00

Em menos de três anos, as emissões de dívida sustentável foram introduzidas em Portugal, evoluíram e ultrapassam já 7,63 mil milhões de euros, depois da operação feita pela EDP – Energias de Portugal esta semana, com a colocação de 1.250 milhões de euros de dívida híbrida verde. “É uma ferramenta muito importante para superar o desafio da descarbonização”, afirma ao Jornal Económico (JE) o administrador financeiro do grupo energético português, Rui Teixeira.

Os emitentes portugueses de obrigações verdes, híbridas ou títulos de dívida indexados a critérios ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) fazem uma análise muito positiva das operações feitas, pelo que representam na concretização de políticas de investimento sustentável, mas também pela competitividade face a outras formas tradicionais de financiamento. “A nossa avaliação destas operações é claramente positiva, seja pelas condições financeiras alcançadas, seja pelo sinal que demos aos nossos stakeholders, internos e externos”, sintetiza João Dolores, administrador financeiro do grupo Sonae, traduzindo a opinião generalizada.

O grupo da família Azevedo desenvolveu já diferentes operações, que ascendem, em conjunto, a 280 milhões de euros, até ao final de 2020, incluindo a primeira na Península Ibérica associada a indicadores de desempenho específicos para a liderança no feminino.

A EDP é o principal agente deste mercado, foi a empresa que iniciou o movimento, em outubro de 2018, e fez já oito operações, incluindo uma denominada em dólares norte-americanos, arrecadando mais de 6,3 mil milhões de euros, no total, e representando 82,5% do total do mercado.
O segundo maior emitente é a sucursal portuguesa da espanhola UCI, instituição financeira especialista na concessão de crédito à habitação, que, em 2020, emitiu dívida garantida por crédito hipotecário, em que parte do valor obtido (331 milhões de euros) será canalizado para investimento tem um compromisso de utilizá-lo em novos créditos hipotecários para edifícios com baixa pegada de carbono, bem como na melhoria dos existentes. A REN surge a seguir, com 300 milhões dívida verde emitida, já em 2020.

 

Competitividade e intenção de reforço
A competitividade da dívida verde é reconhecida por todos os emitentes, mesmo que a generalização deste tipo de operações, globalmente, reduza o prémio que os investidores estão dispostos a pagar pelo financiamento de projetos sustentáveis. “A dívida verde é de facto competitiva com a dívida mais tradicional”, sublinha Gonçalo Morais Soares, administrador financeiro da REN – Redes Energéticas Nacionais. “No caso das obrigações verdes, temos assistido a um fenómeno revelador da crescente importância e desenvolvimento deste mercado: começámos a assistir a casos de obrigações verdes a transacionar em mercado com yields [taxas de juros] inferiores às das comparáveis obrigações tradicionais. É o chamado efeito ‘greenium’ no jargão financeiro, que num conjunto cada vez mais frequente de emissões em mercado primário tem representado um ‘new issue premium’ [prémio de emissão] negativo, quando habitualmente seria positivo no caso de se tratarem de emissões obrigacionistas tradicionais”, explica.

Na generalidade, os emitentes portugueses de dívida verde pretendem manter este tipo de financiamento na sua estrutura financeira e, na maioria dos casos, reforçar o seu peso relativo, face a opções de financiamento mais tradicionais. “[Pretendemos] concretizar novos financiamentos ESG e reforçar ainda mais o respetivo peso na sua estrutura de capital”, garante ao JE António Rios Amorim, presidente-executivo da Corticeira Amorim, justificando com o alinhamento da estrutura financeira com o perfil da empresa e com o crescendo do interesse – próprio, da empresa, e dos seus diferentes stakeholders – e do escrutínio sobre temas ESG. Atualmente, a empresa tem duas emissões ativas, totalizando 60 milhões de euros.
A NOS, que tem 250 milhões de euros de dívida verde emitidos, afina pelo mesmo diapasão: “Tendo em conta o nosso compromisso com a sustentabilidade e o posicionamento relativamente a estas matérias, é natural que venhamos a fazer mais emissões associadas a temas ESG no futuro”, afirma o administrador financeiro da empresa de telecomunicações, José Pedro Pereira da Costa.

Por causa do investimento em energias renováveis, arquétipo do investimento sustentável, as empresas do sector da energia têm estado ativas no mercado e prometem manter a mesma direção. Em conjunto, as emissões de EDP, REN e a Greenvolt representam 87,15% do mercado.
A EDP mantém a intenção de continuar a fazer emissões de dívida verde. Fonte oficial da empresa refere que, no final do primeiro semestre deste ano (excluindo, portanto, a emissão desta semana), as emissões sustentáveis correspondiam a 37% do total das obrigações emitidas e a 33% da dívida financeira da EDP. “É nossa expectativa que, até 2025, a dívida verde represente cerca de 50% da dívida global do grupo EDP”, no caminho para cumprir o objetivo da neutralidade carbónica, em 2030.

Na mesma linha, também a Greenvolt manifesta a intenção de reforçar o peso deste tipo de financiamento. “Essa é, de facto, uma das nossas intenções”, aponta Miguel Valente, administrador financeiro da empresa, sublinhando que, “havendo condições, ser o caminho natural” a ser trilhado. Por agora, a empresa contabiliza, apenas, uma operação, de 50 milhões de euros, realizada em 2019, para uma central de biomassa da Sociedade Bioelétrica do Mondego.

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