Empresários disseram à Lusa que o encerramento dos casinos satélite de Macau até 31 de dezembro ameaça a sobrevivência de setores económicos que deles dependem, como as casas de penhores e o comércio de alto luxo.
As ruas das zonas ZAPE (Zona de Aterros do Porto Exterior) e NAPE (Zona Nova de Aterros do Porto Exterior) em Macau, outrora animadas por jogadores, estão a ficar desertas.
Os casinos satélite, que eram a força vital destas zonas da cidade, estão prestes a encerrar até ao final do ano, deixando casas de penhores e lojas de alta gama vazias e os seus donos apreensivos sobre o futuro.
“As casas de penhores nestas áreas vão simplesmente fechar ou mudar-se. Não vejo outra solução”, disse à Lusa o presidente da Associação Geral dos Penhoristas de Macau, Alexander Wai Kai Leung.
Está previsto que, pelo menos, nove dos 11 casinos satélite da cidade cessem operações até 31 de dezembro, prazo final de um período de carência de três anos concedido para acordos entre os operadores dos espaços de jogo e os concessionários sob os quais funcionavam.
Entre os casinos satélite localizados nas áreas da ZAPE e NAPE contam-se o Casa Real, o Fortuna, o Kam Pek, o Landmark, o Legend Palace e o Waldo. A Lusa tentou contactar os hotéis que albergam estes espaços, mas nenhum dos seus colaboradores soube indicar qual será o futuro do local após o encerramento. O Grand Emperor serve de exemplo: o casino fechou há três anos e as instalações permanecem vazias até hoje.
“Se os casinos fecharem, o impacto para nós é significativo. O nosso sustento depende dos jogadores”, salientou Leung, expressando ainda a esperança de que os casinos satélite permaneçam abertos.
Em resposta ao encerramento iminente, a Direção dos Serviços de Turismo (DST) disse à Lusa que “pretende atrair visitantes” para a área da ZAPE para apoiar o comércio local. Entre as medidas para o fazer incluem-se a realização de eventos, o melhoramento da paisagem urbana e a oferta de pacotes especiais dirigidos aos espetadores de concertos, que incluam ‘vouchers’ de compras e bilhetes para museus.
Entretanto, as autoridades começaram já a testar este plano. Em agosto, organizaram um mercado temporário na ZAPE. Foram montados mais de 30 bancas no mercado, que promoveram produtos artesanais e ofertas gastronómicas, tendo o número total de visitantes sido de cerca de 36.000 em quatro dias.
Empresários como Leong mantêm-se, não obstante, céticos. O presidente da associação das casas de penhores questiona estas medidas, considerando-as mesmo inúteis para as casas de penhores.
“A nossa indústria depende dos jogadores como seus principais clientes. Podem atrair pessoas para jantar na rua, mas não vejo como é que isso nos beneficia”, disse, acrescentando que sente que o setor tem sido “marginalizado pelas autoridades, que consideram o negócio de ‘alto risco’ para branqueamento de capitais”.
De acordo com a associação, existem cerca de 25 casas de penhores na área da ZAPE e NAPE.
A ameaça estende-se para além das casas de penhores. Montras de lojas como a do Grupo In Vo Chong exibem barbatanas de tubarão, ‘whisky premium’ e Moutai, cativando uma clientela abastada.
O proprietário, Lok Chi Lai, secretário-geral adjunto da Associação dos Comerciantes de Ninhos de Andorinha de Hong Kong e Macau, reconhece os esforços do governo para aumentar a afluência de outras pessoas que não os frequentadores dos espaços de jogos.
Porém, disse à Lusa, estas iniciativas “não conseguem atrair clientes de alta gama para consumir”, apenas atraem “jovens para tirar fotografias”, esclarecendo que existem mais de 40 estabelecimentos deste género nas duas áreas da cidade.
“Quem vem para jogar está disposto a comprar bens de luxo a preços mais elevados para oferecer. Sem estes clientes, o futuro não parece assim tão risonho”, disse Lok.
Por outro lado, acrescentou, promover oferta hoteleira situada na ZAPE e na NAPE também é ineficaz porque “os hotéis aqui são antigos (…), e os clientes de alta gama preferem ficar nos hotéis de cinco estrelas em Cotai”, o distrito turístico e de jogo mais recente, onde se encontra parte significativa dos maiores casinos pertencentes às seis operadoras de Macau.
Lok disse “discordar absolutamente” do encerramento dos casinos satélite, criticou o governo por não ter planeado adequadamente a transição nas duas zonas da cidade em que vão desaparecer durante o período de carência de três anos que agora chega ao fim.
O secretário do Executivo de Macau para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, disse em junho que existem 320 lojas localizadas perto dos casinos satélite, estimando que metade iria provavelmente sentir um “impacto direto” com o encerramento dos mesmos.
Em junho, após o anúncio formal do encerramento dos casinos satélite, mais de 70 comerciantes da ZAPE assinaram uma petição a exigir a intervenção do governo, pedindo a manutenção dos casinos satélite em funcionamento.
De acordo com um relatório recente da consultora imobiliária Jones Lang LaSalle (JLL), o encerramento dos casinos satélite está a contribuir para a queda dos preços das propriedades comerciais em ambas as zonas da cidade, ZAPE e NAPE.
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