Pensei muito sobre qual deveria ser o tema da primeira crónica do ano de 2025. Afinal, 2025 é o ano em que atingimos o primeiro quarto do século. É um número respeitável e leva, inevitavelmente, a reflexões sobre a idade e a nossa vulnerabilidade perante a acelerada passagem do tempo. Mas só é acelerada porque vivemos em permanente celeridade, sem a devida folga mental para saborear cada instante.

Absorvidos por compromissos, preocupações e responsabilidades, nem sempre respeitando o equilíbrio de que necessitamos. Sem tempo para brincadeira ou poesia. Quando foi a última vez que pensámos em poesia? Porque é que a poesia se tornou tão marginal ou confinada a uma determinada elite? Nem sempre foi assim.

Neste limbo entre o ano de ontem e o ano de amanhã, recebemos a notícia da morte de Adília Lopes, uma grande poetisa. Numa entrevista que deu, confessou que não gostava de ser chamada de poeta e, uma vez que a palavra tinha feminino, preferia o termo poetisa. Achei isso bonito.

A sua poesia é adorada pelas novas gerações e vai, certamente, continuar a viver entre nós por um longo tempo. É a homenagem mais bonita que se pode fazer a um artista que sofreu a sua dose de incompreensão numa época em que ser diferente, ser irreverente, ser fora da norma, era visto como uma excentricidade, uma “doideira”.

Não foi assim há tantos anos que muitos de nós (mas não todos) passámos a aceitar a diferença e a ser mais empáticos e compreensivos perante tudo aquilo que é diferente.

Ocorre-me ainda que nunca escrevo sobre poesia nas minhas crónicas. São sempre temas marcados pela atualidade política e pelas transformações que atravessamos enquanto coletivo, e a forma como a sociedade se deve posicionar perante inúmeros desafios.

Tentei colocar muitas questões e, por vezes, arrisquei propor respostas e soluções. Tentei denunciar várias situações e talvez até pudesse ter provocado mais, mas sei que fiz sempre um esforço consciente para descrever e acompanhar esse “colorido turbilhão do mundo”, nas palavras de Goëthe, outro grande poeta. “Enfrentemos a época tal como ela se nos apresenta”, são as palavras de Shakespeare, em Cimbelino. Outro grande poeta.

Estamos rodeados de poetas e poetisas, mas parece que nos esquecemos deles e delas. Pois bem, enfrentemos a época, armados de ânimo, coragem e otimismo, mesmo sabendo que as adversidades serão sem fim. Enfrentemos a época com mais poesia na bagagem.