O Governo de António Costa e a geringonça foram fortemente atacados no passado fim de semana por dois antigos primeiros-ministros sociais-democratas, Passos Coelho e Cavaco Silva, o que motivou, quase de imediato, uma reação socialista, que acusou o mais jovem dos ex-líderes do PSD de só aparecer publicamente para torcer que as coisas corram mal.

Recorde-se que Passos Coelho ficou conotado com a ideia de anunciar, em 2016, a chegada do Diabo, aludindo à degradação da situação económica e ao regresso da crise.

O certo é que, desde então, e já lá vão mais de dois anos, o Diabo não tem dado sinais de si e Portugal tem vindo a conhecer um crescimento económico, que, embora sofrível e feito à boleia do crescimento da economia mundial, não nos fez mergulhar na crise pré-anunciada por Passos Coelho em 2016.

Sabemos, como é óbvio, que a crise regressará, sendo apenas incerto o momento em que a mesma nos baterá à porta, porque a teoria dos ciclos económicos nos ensina que a seguir à bonança virá sempre uma tempestade e a seguir à tempestade virá uma nova bonança.

O que devemos perguntar é se aproveitámos devidamente os ventos favoráveis que nos últimos anos têm soprado da Europa, dos Estados Unidos e da Ásia, com as principais economias a registar bons desempenhos, que muito auxiliaram a tarefa de governação das pequenas economias, fortemente expostas à conjuntura internacional, como é o caso da portuguesa.

Ora, o que Passos Coelho e Cavaco Silva afirmaram, na academia política Calvão da Silva, em Coimbra, é que o Governo socialista tem deitado pela borda fora as oportunidades que o clima económico soalheiro que se vem registando a nível internacional lhe proporcionou nos últimos anos e que, muitas das boas performances económicas que nos vêm sendo apontadas ignoram os profundos desequilíbrios que caracterizam a economia nacional e a falta de uma preparação estrutural para uma crise que, num horizonte mais ou menos longínquo, se voltará a registar.

Passos Coelho acusou o Governo de António Costa de ser mais austero na educação, na saúde e no investimento do que o executivo que liderou, advertindo para a necessidade de se vir a cortar na despesa quando se registar uma degradação da conjuntura externa.

E criticou a incapacidade dos socialistas aprenderem com os erros cometidos num passado recente, afirmando que, mesmo na véspera das coisas correrem mal, havia sempre ministros socialistas importantes a explicar que tinha sido o melhor ano do mundo, o maior crescimento da Europa, que estávamos numa trajetória fantástica e os outros eram Velhos do Restelo. Os mesmos ministros que levaram o país à pré-bancarrota são os mesmos que hoje repetem o discurso de então, em 2009 e 2010.

Já Cavaco Silva optou por alertar para o risco de Portugal vir a tornar-se na lanterna vermelha do pelotão da zona euro, se continuar a adotar as mesmas políticas até aqui seguidas, explicando que, nos últimos anos, temos vindo a ser ultrapassados pelos países do centro e leste europeu em termos de rendimento per capita, ocupando atualmente o antepenúltimo lugar da zona euro, apenas com a Letónia e a Grécia em posição mais incómoda.

Não obstante as campainhas de alarme que vêm tocando, num sonido mais alto, os portugueses parecem estar cada vez mais alheados da realidade, acreditando, acriticamente, nas histórias que lhes vêm sendo contadas. Esquecem-se que, ainda há muito pouco tempo, tiveram que apertar fortemente o cinto, para fazer face a uma das maiores crises económicas que se abateram sobre o nosso país, de forma a respeitar os ditames impostos por aqueles que nos estenderam a mão.

Não parecem ter aprendido com a lição e, por isso, sonham com a possibilidade, irrealista, de se tornarem, da noite para o dia, sem esforço de maior, prósperos e desenvolvidos.

Que o Diabo voltará a bater-nos à porta é uma certeza. Quando teremos a má notícia do regresso do mafarrico é coisa que ninguém poderá afirmar com 100% de certeza. Mas que já esteve mais longe e que não nos temos vindo a preparar de forma adequada para enfrentar a tempestade que nos irá bater à porta não restam dúvidas.

Entretanto, vamos seguindo alegremente as nossas vidinhas, preferindo acreditar naqueles que diariamente nos impingem a banha da cobra. “Engana-me que eu gosto” é o lema que marca a vida de muitos dos nossos compatriotas, que darão, não temos dúvidas, mais quatro anos de governação a António Costa e seus acólitos.