Este ano ficará marcado pelos inúmeros recordes que os mercados têm registado, desde as taxas negativas aos máximos históricos das bolsas americanas. O último marco atingido deu-se quando as obrigações gregas a 10 anos baixaram da fasquia de 2%, pagando menos que as obrigações americanas.

Poderá um investidor alguma vez acreditar que o risco de uma obrigação emitida pelos EUA é inferior ao de uma obrigação grega? Aparentemente essa é a nova realidade, adulterada pelas intervenções dos bancos centrais. A atitude restritiva do Banco Central Europeu (BCE) face à impressão de dinheiro desapareceu, e os investidores começam agora a considerar que esta instituição é a única que poderá absorver perdas no seu balanço, sem que nenhuma pergunta lhes seja feita.

Numa atura em que a dívida grega atinge os 182% do PIB, após três reestruturações, ou acordos, face aos 100% dos EUA, todos parecem esquecer o dinheiro que foi perdido e o facto de não ser possível pagar esta dívida.

Se nos concentrarmos nos últimos dados económicos europeus relativos à actividade industrial, verificamos que estes nos mostram contracções significativas que irão afectar o crescimento da economia no segundo semestre de 2019. Perante isto, qualquer recuperação económica, grega ou portuguesa, será frágil e assente unicamente num pilar – o BCE.

É pois expectável que o BCE reinicie já em Setembro o programa de compras de títulos, não deixando Christine Lagarde respirar. Não podemos criticar Trump por pedir à Reserva Federal (Fed) para baixar as taxas de juro quando vê o dólar cada vez mais alto, ou por intervir no mercado na sequência da perda de competitividade dos EUA nesta nova guerra cambial entre os grandes blocos económicos.

A Fed também deverá embarcar na compra de activos, o que significa que vai parar de vender o que tem em stock e alimentar mais dinheiro no sistema, contribuindo para o descrédito definitivo do sistema financeiro mundial.

Importa contudo frisar que a pressão exercida sobre o sector financeiro e investidores, para investirem em activos de risco, é inaceitável, principalmente quando o objectivo é fazer com que coloquem o seu dinheiro ao serviço de uma retoma que está comprometida pela liderança.

É neste contexto que os fundos de investimento com exposição global e vantagens fiscais, a par de investimentos mais passivos, vão continuar a sustentar a subida dos mercados. Falta ainda entrar em jogo o dinheiro dos aforradores que começam a perceber que os bancos já não servem sequer para garantir o dinheiro. O ambiente de taxas negativas, conjugado com a subida das comissões bancárias, transformou os depósitos num produto de risco sem capital garantido. Daí que, por ser um activo real, o ouro tenha voltado a brilhar, na qualidade de refúgio, atingindo o valor máximo dos últimos seis anos.

A iliteracia financeira continua, no entanto, a afastar os portugueses dos fundos de investimento, mantendo-os amarrados a uma âncora que apenas os afunda – os depósitos a prazo.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.