Um estudo recente da Comissão Europeia sobre os níveis de literacia financeira dos cidadãos europeus reforça a importância de educar para o tema e Portugal sai mal na fotografia, em penúltimo lugar.

As perguntas incluíam o impacto da inflação no poder de compra, os juros compostos, o planeamento da reforma e a confiança no aconselhamento financeiro dos bancos e intermediários financeiros em geral.

Há dias, na mercearia, assisti a um diálogo em que uma senhora afirmava que a inflação e a subida de preços se devia à guerra, porque tudo vinha da Ucrânia, desde as latas do atum à farinha para o pão, ao que outra lhe respondia com uma interrogação: e a subida da prestação das casas também vem da Ucrânia?

Este episódio é só um exemplo leve do ideário das pessoas, mas fico incrédula quando alguém letrado e informado diz que “apostou” na bolsa (como se as bolsas de valores fossem casinos) ou que comprou acções da Tesla, porque a empresa está a vender muitos carros (como se vender muito significasse valorização empresarial ou distribuição de dividendos) ou que ETF ou bitcoins são um bom investimento ou estão a dar dinheiro (sem a mínima ideia do que são ETF, sem noção do risco associado, não sabendo que bitcoin não é moeda, mas um tipo de criptoactivo e que os criptoactivos ainda não estão regulamentados).

Como profissional actuante na área, preocupa-me a escassez de conhecimento financeiro e mais ainda a falta de confiança no aconselhamento profissional que o estudo da Comissão Europeia também denota.

No aconselhamento financeiro, os bancos são as entidades mais próximas dos aforradores e o nível de escrutínio a que estão sujeitos é hoje elevadíssimo, mas porventura não inspira confiança máxima nos clientes. E a confiança é o cimento agregador da relação bancária.

Não cumpre aos bancos letrar os clientes em matérias financeiras, mas nos muitos deveres que a lei lhes impõe, situa-se o grande princípio-dever de conhecer o cliente (Know Your Client – KYC) e o princípio da adequação dos investimentos ao grau de conhecimento, experiência e património de cada investidor.

E o dever mais importante e exigente que a lei impõe aos bancos e demais intermediários financeiros é o dever de informação que só é cumprido se a informação prestada for completa, verdadeira, actual, clara, objectiva e lícita.

A complexidade e profusão de produtos financeiros dificulta a tarefa de adquirir conhecimento rigoroso e fiável, mas os sites do Banco de Portugal e da CMVM têm glossários e guias do investidor que são bons pontos de partida para tirar dúvidas ou confirmar certezas.

Enquanto há dinheiro, há amigos e quem quer aplicar as suas poupanças tem o ónus de procurar e exigir toda a informação necessária para tomar uma decisão esclarecida e fundamentada, porque, como diz Warren Buffett, o risco vem de não se saber o que se está a fazer.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.