Do novo ciclo político da oposição no pós-eleição de Luís Montenegro para líder do PSD espera-se, naturalmente, um forte sentido crítico à acção do Governo. Tal será útil e necessário se se concretizar na apresentação de propostas credíveis que visem a transformação da economia portuguesa, ou seja, o seu crescimento económico com preocupações sociais.

Apesar da conflitualidade natural entre projectos que se afirmam como alternativas em termos de poder, é também de esperar  em certos domínios estruturantes, cujo impacto ultrapasse em muito a duração duma legislatura, que os dois maiores partidos, PS e PSD, terão que se entender/negociar, em nome dos superiores interesses do país.

No entanto, pelo desenrolar dos factos, releva de imediato a questão do Aeroporto de Lisboa, agora precipitada pelo ministro Pedro Nuno Santos. Assunto já antigo, que até já está sujeito a escárnio, mas cuja resolução não pode ser adiada por muito mais tempo. Quis António Costa que esse fosse, talvez, o primeiro tema para conversações com o recém-empossado líder do PSD, sabendo também que o actual Presidente da Câmara de Lisboa é um destacado militante e dirigente do PPD/PSD.

Pedro Nuno Santos – vá-se lá saber porquê – pôs-se em bico de pés e se calhar deu motivos a Luís Montenegro, no início do seu mandato oposicionista, para uma investida crítica fortemente partidária, passando ao lado do interesse do país e, sobretudo, da capacidade de conseguir receber adequadamente maior número de pessoas, sejam meros turistas ou agentes económicos. Seria um mau começo, a meu ver, mas espero que tal não revele ser a realidade.

Mas existe outro domínio onde é demasiado urgente o Governo atuar e, desejavelmente – ficar-lhe-ia bem –, obter consensos, pelo menos com o PSD. Trata-se da execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), cujo prazo de execução, se alargado, será bem-vindo. Também argumentando para tal o Governo com a alta dos preços e escassez dos materiais, que serão utilizados em múltiplas obras infra-estruturantes – devido à situação  mundial provocada pela guerra na Ucrânia.

Desejo este que, globalmente, a União Europeia parece não estar muito disponível para satisfazer em termos de flexibilidade visível, até porque o prazo que a própria UE autoriza para financiar esta “bazuca global” tem um fim à vista, i.e. 2026.

Aqui está pois um dos primeiros dossiers que o Governo, e desejavelmente a Oposição (desde logo o PSD), devem abordar em conjunto, designadamente quanto à execução, corrigindo o que tiver que ser e ainda, se possível, adaptando alguma matéria de conteúdo à realidade presente. Isto porque se trata duma oportunidade única para o país. Não interessa agora cavar discussões lançando farpas quanto ao conteúdo dum programa já aprovado e calendarizado em Bruxelas, mas sim estabelecer uma plataforma firme e o mais consensual possível nesta fase.

Depois deste tema sobremaneira decisivo para o país, virá com certeza o problema do aeroporto – tema não adiável! – e  também valerá a pena, designadamente no seio da ANMP, acelerar a solução definitiva e eficaz do complexo, mas básico problema, da descentralização das competências do Estado central para os Municípios.

A meu ver, considero errado que as áreas de entendimento PS-PSD em matérias estruturais apenas se circunscrevam à política europeia, de defesa, de combate às alterações climáticas ou outras que envolvam compromissos internacionais. Posição que não é, em si, portadora do necessário valor acrescentado para o país. É que restarão  sempre muitos domínios em que será útil haver diferenças bem vincadas! E a propósito, vejam o grande alívio que Montenegro deu ao Presidente da República em matéria de regionalização, ainda que administrativa, precisamente uma das matérias em que o previsto referendo teria que forçosamente ser precedido do tal entendimento entre os dois grandes partidos!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.