Não sei, e acredito que ninguém saiba com rigor, o estado real das alterações climáticas por interferência humana no ambiente. A questão ambiental é provavelmente o mais importante desafio que a humanidade enfrenta, todos os restantes são condicionados pela ecologia. Infelizmente, vivemos num tempo de posições extremadas, entre ecologistas radicais e negacionistas obscurantistas.

A caricatura do ponto a que chegamos na irresponsabilidade na abordagem desta questão fundamental, pode ser personificada em Greta Thunberg e Donald Trump. A histeria sem substância em confronto com o obscurantismo ignorante. Da junção de péssimos ingredientes, dificilmente sairá uma boa receita.

Em ambos os casos, Greta e Trump, servem de fundamento para que nada se faça. De um lado, porque o objectivo é a eternização da luta e alimento da fractura, do outro, porque a ideia é a perpetuação do imobilismo e também o statement contra tudo o que implique custo e compromisso. Nada falta para que nada aconteça. O folclore vive pela perpetuação do espectáculo, não para resolver as questões magnas da actualidade.

Fiquei francamente decepcionado, apesar de não surpreendido, com o convite histriónico do Parlamento português a Greta Thunberg. Portugal tem o dever, enquanto Estado e Nação, de abordar as grandes questões da actualidade, abrindo caminhos, procurando soluções, influenciando no quadro europeu primeiro, e no global depois.

Seria do interesse de todos que Portugal se afirmasse no quadro das nações como país de vanguarda na procura de diagnósticos sérios e soluções credíveis na área das alterações climáticas. Recordo que a procura e implementação de diversidade de fontes energéticas limpas por governos socialistas mereceu sempre o meu aplauso; apontava um caminho e mostrava compromisso.

Este convite à menina Thunberg trai cada uma das torres eólicas, cada um dos parques solares, cada grupo de investigação que esteja a desenvolver trabalho sério. O patrocínio deste circo parolo e destituído de conteúdo credível, é a prova de que nada de sério se quer fazer.

Uma criança que faz a tournée de lobbies poderosos, em escandaloso trabalho infantil e absentismo escolar, numa manipulação absolutamente populista da questão envergonha quem a patrocina, quem a convida e quem a divulga. Espanta-me, ou talvez não, que o convite tenha sido aprovado por unanimidade na Comissão de Ambiente, liderada obviamente pelo Bloco de Esquerda, abrigo e palco de todos os Thunbergs desta vida.

Na humildade de simples cidadão preocupado, e de contribuinte que paga o funcionamento do Parlamento, gostaria de saber quando é que o Parlamento decide, ou se tenciona sequer decidir, fazer uma abordagem séria a esta questão magna. Gostaria de ver em Portugal convocada a Academia, os centros de estudo mais evoluídos nestas matérias, os grandes centros de produção de pensamento a nível internacional, os observatórios oficiais, as equipas multidisciplinares que se encontram no terreno em diferentes pontos do planeta, os representantes da produção científica publicada e gente das ciências sociais.

A reunião destes grandes protagonistas, juntando as diferentes fontes do conhecimento debaixo de um tecto comum, o alcance de consensos possíveis que iluminassem a actualidade, catapultaria Portugal para um papel liderante e, acima de tudo, prestaria um bom serviço à humanidade.

O Parlamento escolheu uma via diferente, parola, populista e histérica. Alimentará alguns basbaques e André Ventura, previsivelmente, dirá que quer trazer Trump ou Bolsonaro. No meio do circo, nós não aprenderemos nada, nada se esclarecerá, nada acontecerá. A humanidade e o planeta nada lucrarão. Prefere-se a forma à substância e perde-se uma excelente oportunidade de tornar Portugal relevante. Tempos tristes, estes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.