Abriu a época das entrevistas aos líderes partidários. As eleições são já em outubro e a Democracia reclama a representação a que os órgãos de comunicação social se prestam com mais ou menos ardor. Não tenho nada contra. Enquanto não se inventar uma maneira mais justa de assegurar o governo, o circo faz-se assim em todo o mundo.

No nosso caso concreto, sim, estou disponível para ouvir os partidos sobre a política de alianças, o balanço da legislatura, o Brexit, a situação da União Europeia, a possibilidade de uma nova crise económico-financeira mundial, os salários, as greves e todos os outros pequenos temas que fazem o dia a dia português.

Essa é a rotina.

O que levo a mal é que os líderes políticos portugueses, perdidos na medíocre agenda nacional, não consigam dar prioridade – e nisso contam com a cumplicidade de quem os entrevista – a novos temas e sobretudo a alguns que, felizmente, preocupam cada vez mais a cidadania. Três deles: as alterações climáticas, as prioridades para um desenvolvimento energético sustentável e, no caso português, a corrupção.

Eu compreendo que António Costa, por exemplo, queira entrar e sair de um estúdio de televisão sem ser incomodado com os tristes exemplos que o PS deu nestes quatro anos, confundindo demasiadas vezes os interesses dos seus militantes e amigos com os interesses do país – mas é revelador que o consiga.

Ainda mais revelador é que, estando a humanidade a enfrentar mudanças climáticas crescentes, não se oiçam os líderes portugueses, e isso é válido para todos, sobre o que pensam que podem fazer. A ideia de que o problema é tão grande que não cabe nas eleições portuguesas é apenas estúpida. É precisamente por o problema ter escala universal que é importante saber como se enfrenta em cada uma das suas células político-administrativas: os países.

Eu quero saber, tenho a esperança que a maioria dos portugueses queira saber, e, sobretudo, entendo que a juventude tem o direito de saber como os partidos políticos nacionais se posicionam no combate ao plástico, na proteção da qualidade da água, na preservação da biodiversidade, na sustentabilidade ambiental, na guerra ao carbono.

E isso pode ser feito a partir de questões concretas e tão básicas como a proteção dos rios face à atividade criminosa de muitas indústrias (ai o Tejo!), a intensificação dos cruzeiros (parabéns ao PAN por estar atento), a reconstrução do pinhal de Leiria, etc., etc.. Não faltam ganchos nacionais para irmos à prioridade das prioridades da preservação da Terra sem precisarmos sequer da tragédia que assola a Amazónia – e não é só de agora.

A defesa do planeta não é algo que possamos empurrar sempre para os outros: para a ONU, para a UE, para os cientistas, para as organizações ambientais. A luta pela preservação da qualidade de vida dos seres humanos não pode ser permanentemente delegada. É um problema nacional e de cada um dos seres humanos à face da Terra.

Por isso, na próxima entrevista a um líder partidário português perguntem-lhe, sff, que meios tenciona dar à Justiça para cumprir a sua função de zelar por uma sociedade mais transparente, o que vai fazer para consciencializar as pessoas da necessidade de poupar (energia) e reciclar (os objetos de consumo), de preservar o nosso espaço comum. A defesa da Terra começa aqui. E passa por eleições que não sejam sempre para falar mais do mesmo.