Vivemos há cinco anos nas mãos das troikas.
Primeiro, estivemos quatro anos a penar nas mãos do FMI, BCE e CE, que o famoso 44 de Évora foi obrigado, a contragosto, a chamar, depois de lhe terem negado a última cartada de que pretendia lançar mão: o célebre PEC IV. Governado de jure pela dupla Pedro e Paulo, Portugal esteve, de facto, nas mãos da troika, dos quais os dois primeiros não foram mais do que mandatários, obrigados a ler pela cartilha que lhes havia sido imposta.
Os portugueses passaram, então, por um período muito complicado nas suas vidas, em que o verbo mais conjugado era cortar. Cortaram-se pensões, rendimentos do trabalho, rendimentos de capitais, direitos, subiram-se impostos, instalou-se a austeridade. E os portugueses, tenazes, resistentes, aguentaram estoicamente. Ficaram mais pobres, com menos direitos, mas aguentaram. E, no final, tiveram a merecida recompensa: a troika, satisfeita com os resultados alcançados, devolveu a independência a Portugal.
Chegada a altura de novas eleições legislativas, Pedro e Paulo, os mandatários da troika, apresentaram-se coligados sob a sigla PAF (Portugal à Frente), tendo obtido uma surpreendente vitória, com 38,5% dos votos. Mais de dois milhões de “entroikados” deram um voto de confiança a Pedro e Paulo, desejando que estes se mantivessem à frente dos destinos da Nação.
Mas eis que o PS, liderado por António Costa, o grande derrotado da noite eleitoral, conseguiu, num passe de mágica, inverter as intenções dos portugueses, sentando à mesma mesa PS, PCP e BE, e fazendo regressar ao poder uma nova troika. Contrariamente à primeira troika, esta ancorava a sua proposta na conjugação dos verbos repor e reverter. Repor os salários, as pensões, os rendimentos, os direitos, reduzir os impostos, reverter as privatizações e as concessões.
A nova troika prometia aos portugueses uma vida menos sombria. Com mais rendimentos, com mais direitos, com mais bem-estar social. Depois de quatro anos de inverno, eis que chegaria a primavera. Passado quase um ano sobre a tomada de posse do XXI Governo Constitucional, a nova troika não tem conseguido cumprir os seus objetivos.
Portugal tem um crescimento económico anémico, o investimento estrangeiro caiu a pique, as exportações desceram abruptamente, o desemprego mantém-se em níveis assustadoramente elevados, os impostos não baixaram, e um governo que sempre afirmou que há vida para além do défice faz, agora, deste a sua única bandeira, tentando, a todo o transe, cumprir a meta dos 3% do PIB.
Os impostos não baixaram, antes assistimos a uma clara preferência pelos impostos indiretos sobre os impostos diretos e pela clara intenção de tributar o património e a chamada “classe rica”, que mais não é do que a classe média que, muitas vezes com sacrifícios, optou pela poupança em detrimento do consumo.
Certo que se repuseram alguns dos cortes que a primeira troika havia imposto, que se reduziu o horário da função pública, que os casais do mesmo sexo podem agora adotar, que os professores já não têm de fazer prova de acesso à docência, que as crianças já não têm o estigma de se submeterem a exames, que podemos viajar numa transportadora aérea maioritariamente pública, que Portugal ganhou o Europeu 2016, mas os fundamentais da economia vão de mal a pior e o país só consegue financiar-se externamente graças à atuação do nosso amigo Mario Draghi.
De uma forma ou de outra, certo é que, nos próximos anos, vamos continuar a ser governados por uma troika, seja pela troika irrealista e sonhadora que atualmente está no poder, seja pela troika austera e redutora que nos dirigiu durante quatro anos. Estamos definitivamente “entroikados”.