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Entusiasmo com a canábis ‘esfumou-se’ em poucos dias

A aprovação do uso recreativo da canábis no Canadá levou a fortes valorizações das ações do setor. No entanto, as últimas sessões em bolsa têm sido de tombos. A chave para o futuro está na confiança no crescimento do segmento.
24 Outubro 2018, 09h50

O Canadá tornou-se, há uma semana, o segundo país a legalizar o uso da canábis para fins recreativos. A aprovação foi vista como um marco histórico, mas também como uma oportunidade de negócio. Após as fortes valorizações das ações das empresas do setor antes de a legalização se ter tornado efetiva, as últimas sessões têm sido de desvalorizações.

“Há entusiasmo com a canábis se tornar legal no Canadá. Muitos investidores estão ansiosos, mas os investidores astutos são cuidadosos. A razão pela qual os investidores astutos são cuidadosos é porque sabem, por experiência própria, que muitos ganharão milhões em ações de canábis, mas muitos outros irão à falência”, escrevia Nigam Arora, analista especializado no setor, num artigo de opinião no MarketWatch, no dia em que o uso recreativo se tornou legal no país, na quarta-feira passada.

O analista antevia o que acabou por acontecer: um selloff no mercado de ações de canábis. Na manhã de quarta-feira, o valor dos títulos da produtora de canábis para uso recreativo e medicinal Aurora atingiu máximos de sempre. No final da sessão tinha desvalorizado 35%.

Estreia da Aurora na NYSE desilude

A Aurora tinha duplicado a capitalização de mercado entre agosto e outubro, ultrapassando os 10 mil milhões de dólares. No entanto, o tombo de há uma semana foi apenas o início. Esta terça-feira, a cotada, que negociava já na bolsa de Toronto, estreou-se em Wall Street com uma desvalorização superior a 15%, antes de recuperar no final da sessão.

Entre o setor, as pares Canopy Growth, Cronos e Tilray caíram mais de 10% no início da sessão de terça-feira. No acumulado das últimos cinco sessões, todas acumulam perdas superiores a 30%.

Entre ganhos, perdas e elevada volatilidade, a Aurora ainda regista uma valorização de 45% nos últimos três meses. Já a Canopy Growth, que foi alvo em agosto de um investimento de 5 mil milhões de dólares canadianos (cerca de 3.371 milhões de euros) pela Constellation Brands (dona da cerveja Corona), ainda ganha 50% nos últimos três meses.

Há várias causas apontadas para as desvalorizações no setor, a começar pelas preocupações com a guerra comercial que levaram a um selloff generalizado do mercado acionista global no início do mês.

Futuro em aberto para um subsetor pequeno

Por outro lado, a corrida às ações quando o Canadá aprovou o uso recreativo de canábis está a seguir por correções ao género do ditado ‘comprar o rumor e vender as notícias’. Como explica o analista Nigam Arora, há também tendência para investidores pouco experientes queiram entrar no setor, que também são os que mais facilmente se assustam com as quedas e vendem ações, exacerbando a situação.

Por último, há ainda dúvidas sobre a evolução do setor e se irá realmente expandir nos próximos anos. “Para já, a canábis ainda é um subsetor de escala relativamente pequena no contexto da indústria de produtos de consumo e na economia em geral”, sublinhou a agência de notação financeira canadiana DBRS, num relatório publicado esta semana, em que acrescenta que “nem todas [as empresas] vão ter um desempenho igual e muitas vão falhar”.

Os investidores que se mantêm no setor confiam, no entanto, que o futuro é robusto. “Acreditamos que a legalização no Canadá oferece um roteiro para investir nas empresas que formarão a base da indústria legal da canábis nos próximos anos”, disse Jon Trauben, managing partner da empresa de investimento especializada em canábis Altitude Investment Management, ao “Business Insider“.

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