Nunca foi fácil ser-se um cidadão ativo e participativo, com pensamento e opinião autónomas, nas atividades da sociedade.
Sobretudo, nunca foi fácil sê-lo pretendendo manter alguma autonomia de opinião em relação aos principais métodos pré-determinados de alinhamento social, partidos políticos, organizações religiosas, clubes desportivos, etc..
A tendência desses métodos de alinhamento é para o reforço do monolitismo da opinião, para o mínimo denominador comum e para a prevalência da opinião maioritária.
Atualmente, essa pretensão de autonomia de opinião é ainda mais difícil na sociedade informacional vigente, pois vivemos no paradigma da equivocidade.
Este paradigma caracteriza-se pela prevalência do excesso de informação e da informação conflituante, bem como pela proliferação dos meios e canais informacionais.
A equivocidade típica da sociedade atual substituiu a falta ou ausência de informação como paradigma vigente.
A alteração de paradigma modificou também as formas de guerra ou conflito informacional e, em particular, os métodos e estratégias de desinformação.
O desafio da obtenção de informação foi claramente substituído pelo da capacidade para selecionar, filtrar e analisar a informação disponível não só como forma de obter a melhor informação possível, mas, principalmente, para conseguir detetar-se as formas de manipulação informacional características das ações de desinformação.
Este desafio não é de somenos pois constitui um dos mais importantes meios de combate em favor de uma democracia plena e transparente. A proliferação de meios e canais informacionais, nomeadamente, os baseados na internet, em particular as redes sociais, veio contribuir para a disrupção nos meios clássicos de comunicação.
A desinformação e o conflito, ou guerra de informação, sempre existiram e sempre utilizaram os meios convencionais de informação. No paradigma anterior, as entidades estatais e o poder económico e financeiro eram os principais atores e beneficiários desse conflito.
Assistimos, ainda hoje, a muitas queixas relativamente a esta mudança na preponderância dos meios e canais de comunicação tradicionais, sendo que grande parte delas constituem apenas falácias de quem quer apenas recuperar o statu quo, e o poder inerente, e não uma verdadeira intenção reformadora.
Contudo, embora a expansão dos canais informacionais baseados na internet e a expansão das redes sociais tenha aspetos claramente positivos para a liberdade de opinião e para a diversificação das fontes de informação que conduz à formação dessa opinião, a sua proliferação e quase ausência de regulação introduz uma certa esquizofrenia opinativa e, consequentemente, informativa, que potencia a desinformação.
A tendência nos próximos anos será para o aumento da regulação e para o desenvolvimento tecnológico, com a utilização de mecanismos de inteligência artificial que virão ajudar o utilizador nessa hercúlea tarefa de análise e seleção, em tempo útil, da informação fidedigna.
No entanto, o principal desafio para o cidadão que pretenda ter uma participação social ativa é, claramente, ter consciência das características desta nova forma de funcionamento da sociedade da informação e construir uma atitude crítica e saudável em relação quer à informação disponível, quer à forma como desenvolve a sua opinião e, mais importante talvez, a forma como a comunica.
A corrente da desinformação é quebrada, na maioria das vezes, quando alguém para e pensa.