“Os homens erram, os grandes homens confessam que erraram” – Voltaire

As últimas duas décadas da vida política portuguesa estão pejadas de erros, todos de grande visibilidade e de consequências funestas, alguns dos quais, pela sua intrinsecidade, verdadeiramente históricos.

Os tempos que estamos a viver mais não são do que o reflexo de quem não soube agir estrategicamente conforme seria o mais adequado e indicado em cada momento de decisão. E esta situação nada tem a ver com a pandemia. Os efeitos pandémicos só vieram sublinhar o rol infindável de erros de quem não nos soube nem sabe governar.

Quantas vezes nos foram pedidos sacrifícios ao longo destes últimos 20 anos? Certamente que lhe perdemos a conta. Mas o que qualquer português não pode aceitar é o carácter cíclico e repetitivo destes sacrifícios. O sacrifício uma vez solicitado é para ser feito de forma discreta e não deslizante, isto é, faz-se num determinado momento, a situação é equilibrada e parte-se para um ciclo de crescimento, não deixando descambar de novo para uma situação ainda pior à anterior ao sacrifício.

Já foi dito por muitos (aos quais me junto), que a classe política que nos tem (des)governado nestes últimos 15 anos é muito, muito fraca e sem qualidade.

Se atentarmos bem a tudo o que se passou no período que referencio, é chocante a falta de capacidade estratégica de quem tem decidido.

Nunca entendi porque não chamaram os melhores à governação. E os melhores não estarão certamente nos corredores do poder, de qualquer ministério ou autarquia, em qualquer universidade ou anquilosados e ancorados em qualquer departamento do vastíssimo e exagerado sector público administrativo.

Os melhores, pelas provas que têm dado ao longo do tempo, estão na economia real e na economia financeira. Dirigem (ou dirigiram) empresas. Conseguiram atingir objectivos numa atmosfera de cerrada competição. Multiplicaram a criação de riqueza. Criaram e continuam a criar emprego. São extremamente exigentes e rigorosos – só desta forma conseguem atingir a excelência do output gerado. Não se preocupam com as aparências, mas tão-só com o trabalho que têm pela frente e o qual pede, impiedosamente, que se atinjam os objectivos.

Nunca entendi, porque para lugares (mais ou menos importantes da governação) se têm que ir buscar sempre os mesmos e aos mesmos locais, quer dizer, ao berço dos partidos.

Tem faltado a coragem! A coragem de romper com este modelo. A coragem para ir buscar quem racionaliza a governação numa perspectiva empresarial, respeitando, obviamente, o relacionamento social e tudo o que daí resulta. Mas nas empresas não será essa perspectiva respeitada? Os exemplos falam por si.

Faço daqui um apelo a quem nos está a governar: escolham os melhores não olhando a filiações, simpatias partidárias ou amizades. Só com os melhores Portugal poderá pensar em ultrapassar esta grave situação que nos foi criada e nos coloca na cauda duma Europa a 27 em todos os indicadores de crescimento da riqueza e desenvolvimento. E ninguém se pode eximir de culpas no cartório.

Exige-se que se pense exclusivamente no que é melhor para Portugal e não no que será melhor para o partido ou para as ambições pessoais de cada um e dos seus amigos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.