Apesar de se configurar mais no campo filosófico do que propriamente no domínio da gestão, a afirmação encerra uma incursão cultural profunda, quer no que diz respeito ao ordenamento jurídico, económico e social da nossa sociedade, quer no que toca à cultura intergeracional.

Apelando à memória, não é difícil encontrarmos exemplos da forma austera como a geração dos “baby boomers” foi educada: tolerância zero ao erro, à irreverência e portanto à experiência como forma de crescer e de aperfeiçoar o conhecimento. Esses traços de austeridade estão muito enraizados na sociedade portuguesa e na cultura europeia em geral.

Não querendo estabelecer facilidades e conjeturas sobre relações causa-efeito, que muito daria para escrever e para aprofundar, não nos podemos surpreender que, aqui chegados, estejamos perante uma enorme indefinição sobre o futuro da Europa, com a certeza do seu anémico crescimento e com um vazio quanto a ideias sobre o que podemos oferecer e projetar para as gerações vindouras. Mas o statu quo é sintomático de diferenças culturais entre blocos geográficos, e mesmo entre gerações.

Não surpreende que as nações que apresentam um padrão de ensino mais experiencial, mais aberto à participação e mais desprovido de dogmas que se formam em torno do papel que os filhos podem vir a desempenhar na sociedade, acabem por revelar melhor desempenho na formação de novas empresas, com novas ideias e com maior potencial de desenvolvimento económico.

Basta, por isso, olhar para a diferença significativa entre a disponibilidade de capital de risco em geografias como a europeia continental e as de matriz anglo-saxónica ou nórdica.

Que seria da Apple, da Amazon, da Google, apenas para citar alguns hoje gigantes, se iniciassem a sua atividade recorrendo a endividamento bancário? É que as diferenças entre elevado desempenho no médio-longo prazo de startups depende exatamente da tolerância, da margem que os empreendedores têm para errar. Do “poder de fogo” que existe na economia para experimentar até acertar no alvo.

A este propósito, atrevo-me a afirmar que as vias de mitigação do erro não residem na qualidade de quadros regulatórios nem na quantidade de regras sobre a atuação das pessoas. Não obstante a sua necessidade no desenvolvimento de um quadro de organização da sociedade, o trabalho de mitigação do erro desenvolve-se muito mais na ética, no aprofundamento dos valores e da moral.

Por isso, os gestores deverão hoje procurar que o desenvolvimento das suas organizações se faça num quadro de elevados padrões éticos e morais, dando espaço para a experiência, utilizando o erro como oportunidade para se saber como não fazer ou como fazer de forma diferente, para aperfeiçoar o seu capital estrutural de conhecimento. Porque é de inteligente aprender com o seu próprio erro, e de génio aprender com os erros dos outros. Mas, para ser génio, primeiro é preciso ser-se inteligente.