As gestoras de frotas estão a negociar com as empresas o prolongamento dos contratos pois mesmo com um aumento de preço, o valor será seguramente mais barato do que a contratação de um veículo novo. No entanto, esta não é uma situação definitiva pois o veículo com cinco, seis anos não pode continuar na frota pois existe o risco de subida de custos de manutenção. Outra medida que as empresas frotistas estão a lançar passa pela transferência da mobilidade a combustão para a mobilidade elétrica e, em simultâneo, optam por prazos mais longos de contrato, passando para quatro, cinco ou mesmo seis anos e reduzem o valor da mensalidade. No entanto e como veremos à frente, há uma fraca penetração dos elétricos nas frotas empresariais, de acordo com um estudo de setembro da Leaseplan, o maior frotista nacional com metade do mercado do renting.
Há um outro fenómeno que as empresas têm optado e que passa pelo downgrade e em vez de um série 5 da BMW ou um 3008 da Peugeot, optam por um série 3 ou um 2008. No entanto, esta é uma situação com repercussões na estrutura de pessoal da própria empresa pois o mercado de trabalho em determinadas áreas é alvo de grande concorrência e o automóvel é um dos melhores elementos de retenção de quadros, frisa uma das nossas fontes do setor. As empresas têm ainda de ter em atenção o tema da tributação autónoma que é um custo muito relevante sobre a empresa, para além do impacto no IRS do colaborador, sendo que os veículos 100% elétricos estão isentos de tributação autónoma até ao valor de 50 mil euros mais IVA. O automóvel híbrido tem igualmente benefícios fiscais mas, segundo outras fontes da indústria, a durabilidade no tempo desta opção é mais incerta, ou seja, haverá lobbys nos organismos europeus para que os híbridos plug-in percam incentivos mais cedo do que os automóveis elétricos.
Por outro lado, o TCO, ou custo total da propriedade, continua a ser importante para o veículo híbrido e mantém um valor elevado mas, caso os híbridos percam naturalmente valor no final do contrato (perante razões de mercado) o híbrido sairá mais caro. Aliás uma tendência registada na gestão de frotas é a perda de interesse na gama alta pelos carros a diesel.
O valor residual dos elétricos a partir do momento em que a tecnologia estiver estabilizada manter-se-á elevado. Recordam os industriais do setor que as baterias já provaram a durabilidade e o risco de envelhecimento da viatura e do equipamento é menor e isto significa que o futuro será mais elétrico e menos combustão, muito embora anda seja difícil a penetração dos elétricos nas médias frotas, como já referimos. A visão do mercado em termos de TCO, ou custo total do veículo, tem-se alterado nos últimos anos e se até há bem pouco tempo o elétrico versus veículos a combustão era mais caro e tinha descontos menores, o mercado modificou-se para as frotas. E, se os veículos a combustão registavam descontos de 30% a 40% contra 15% a 16% nos elétricos, o que favorecia o TCO nos veículos a combustão e daí a predominância dos veículos a diesel, na atualidade, e segundo as mesmas fontes, os descontos nos diversos propulsores estão ao mesmo nível. Os descontos dos dias de hoje para os frotistas são diferentes e se para os grandes compradores os descontos chegam aos 20% no preço da viatura contra os anteriores 40%, e para pequenos frotistas conseguem ainda 10% de descontos contra os anteriores 20%, sendo que há empresas que não conseguem sequer descontos.
Um outro problema que se coloca às gestoras de frotas é o prazo para a encomenda de viaturas. A situação atual é de escassez de viaturas devido a todos os constrangimentos com os transportes e com o fornecimento de peças, nomeadamente com a crise dos chips, mas a inflação veio adensar o problema. Hoje, as marcas demoram, em média, seis meses a entregar os carros e o preço contratado não é garantia de preço final. Os custos associados aos transportes devido à alta do preço da energia inviabiliza a adoção de um preço de referência de médio prazo. Esta situação contrasta com aquilo que acontecia na fase pré-Covid em que as alterações de preços estavam exclusivamente relacionadas com alterações da fiscalidade.
Eletrificação lenta
As médias e grandes empresas têm políticas de frotas bem definidas, sendo que o automóvel é visto como instrumento de trabalho mas, como referimos, como uma forma de reter talentos. Um estudo de setembro da Leaseplan, denominado “Car Policy Benchmark 2022” revela que estão a aumentar os serviços contratados a nível de renting, sendo que os veículos de frotas são escolhidos através de tetos financeiros e a decisão nuclear para a contratação da viatura está no custo total da propriedade, o conhecido TCO. Entre os serviços que se revelam preponderantes nas frotas está a contratação de serviços de portagens e o cartão de acesso ao combustível. O mais interessante neste estudo é o facto de mais de metade das empresas inquiridas com frotas inferiores a 200 viaturas não considerarem a aquisição de frotas elétricas ou eletrificadas, sendo que 25% desses inquiridos estão a avaliar as oportunidades que o uso de eletricidade lhes dá. Uma atitude diferente têm as empresas grandes, ou seja, com mais de 200 viaturas em termos de frota e que têm de respeitar princípios ambientais que estão inseridos nos objetivos de sustentabilidade dos grupos onde se inserem.
A transição para a mobilidade elétrica tem em conta os custos, sendo que o impacto nos condutores perante uma nova atitude a nível de mobilidade elétrica é negligenciado.
Um outro trabalho interessante a nível de mobilidade foi produzido pela Arval, através do “Arval Mobility Observatory”. Realizado em 2021 e ainda antes da crise provocada pela guerra na Europa e pelo disparo dos preços, o trabalho dirigido por Gonçalo Cruz conclui que 39% das empresas nacionais que entraram no estudo revelam que as respetivas frotas automóveis crescerão nos próximo três anos e 69% dessas mesmas empresas confirmavam o reforço das aquisições ainda durante o ano passado. E, por outro lado, estando Portugal entre os países europeus com menos empresas a utilizarem viaturas com tecnologias alternativas, o estudo dizia que a pandemia inverteu as prioridades e as alterações climáticas são a razão principal para a transição energética a nível de mobilidade. A adoção de soluções de mobilidade alternativa são outra das opções nesta indústria. Diz ainda o estudo que as medidas de redução de incentivos fiscais sobre viaturas híbridas implementadas desde janeiro de 2021 “tiveram um impacto visível na motivação das empresas sobre a utilização futura de viaturas híbridas”. No ano passado os gestores antecipavam que a três anos a quota de penetração de viaturas 100% elétricas na frota das suas empresas deverá chegar em média aso 38%. A Arval antecipava que seis em cada 10 empresas passem a preferir tecnologias verdes em detrimento dos modelos automóveis a combustão. Por último, um dos principais motivos apontados para a alteração de frota em termos de descarbonização relaciona-se com as novas Zonas de Emissões Reduzidas e com a prevenção de futuras restrições de circulação em grandes centros urbanos.
A necessidade de concentração na indústria da gestão de frotas voltará a ser tema deste ano com a conclusão do processo de fusão entre a ALD Automotive a Leaseplan, algo que está ainda sujeito às Autoridades da Concorrência europeia e nacionais. Notícias recentes revelam que o regulador inglês colocou questões sobre o impacto da operação no mercado local a nível de concentração da indústria.
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