Em dezembro eu pertencia ao grupo dos que estavam convencidos que as escolas não deviam ser fechadas. Dou o braço a torcer! A diminuição da mobilidade gerada pelo fecho das escolas provou ser efetivamente eficaz no controlo dos números.

Quando anunciaram os 15 dias de férias escolares, fiquei surpreendida. Com as férias, e com a discussão que se gerou. Sobretudo com as críticas e argumentos vindos de pais com filhos a frequentarem o ensino privado, e dos próprios colégios privados.

O fecho das escolas veio alterar o calendário letivo e só podia ser feito de forma igual no público e no privado (exceção feita, eventualmente, às escolas internacionais que não seguem o nosso calendário). Férias são férias, e os colégios privados não podem dar aulas nas férias e, dessa forma, criarem mais um desequilíbrio entre os dois sistemas.

Os colégios não podem dar menos férias aos seus alunos mesmo que isso seja conveniente para os pais, ou porque, simplesmente as consideram excessivas. Podem marcar toneladas de trabalhos de casa e de trabalho autónomo que obrigue os alunos a terem, efetivamente, menos férias. Mas é trabalho em casa. Não são aulas, nem tão-pouco nenhuma forma de “apoio” (utilizado aliás durante este período para mascarar aulas de facto dadas pelos colégios).

Fiquei, por isso, bastante incomodada com um discurso de que os alunos dos privados estavam a ser prejudicados (a sério?) por causa da incapacidade de o ensino público dar resposta. Que não se podia prejudicar os coitados (a sério?) dos alunos dos privados só para se tratar de forma igual os menos favorecidos, ou todos aqueles que optaram (nem sempre a opção existe!) pelo público.

Mas de facto, o que mais me incomodou foi que o ruído acerca dos direitos dos alunos nos privados tirou o foco daquilo que era essencial escrutinar. A grande questão que devia ter sido colocada era simplesmente: mas porque é que os alunos vão ter 15 dias de férias? Todos sabíamos que 15 dias não seriam suficientes perante os números de contágio verificados e, pior, quando desde o início do ano se sabia que tinha de haver um plano rápido e eficaz para se passar para um regime híbrido ou totalmente online.

O que é que aconteceu? Porque é que não estávamos preparados para passar imediatamente para ensino à distância? O que aconteceu aos planos que foram pedidos às escolas (e que tanto quanto sei a grande maioria entregou) para alternativas de ensino não presencial?

Tem que haver responsáveis e responsabilidades, quanto mais não seja para garantir que esta impreparação não se repete. Já andamos nisto, infelizmente, há um ano. Se no terceiro período do ano passado o esforço feito por todos, nomeadamente pelos responsáveis políticos, foi notável, agora ficou muito aquém.

E estes 15 dias de paragem vão encurtar as férias da Páscoa e do verão (tornando o segundo e terceiro período longos), vão afetar o calendário de exames obrigando a uma segunda fase em setembro, vão atrasar o arranque do ano letivo no ensino superior.

E porquê? Quem são os responsáveis por esta decisão? Porque a tomaram? Estas são as questões verdadeiramente importantes e mais, são iguais para todos.