O João Miguel Tavares escreveu no Público um texto bastante certeiro sobre a aplicação do teste ESFOP – E Se Fosse O Passos? ao conjunto de medidas e declarações que têm sido aprovadas e proferidas pelo Executivo de António Costa. Tem razão quando fala nesta absurda dualidade de critérios. Mas mais do que chorar sobre aquilo que já conhecemos – o domínio admirável que a esquerda tem sobre a generalidade dos media e o talento inigualável de António Costa para a narrativa política – devíamos estar a chorar o flagelo que é para a democracia esta direita no Parlamento, sobretudo a representada por este PSD.

Na verdade, em vez de ESFOP, gostaria mais que o teste fosse ESFOR – E Se Fosse O Rui Rio? E gostaria que a pergunta fosse feita a dois níveis: E Se Fosse Rui Rio na oposição uma vez que se esqueceu que é esse o seu papel. E numa segunda dimensão: E Se Fosse O Rui Rio a governar, que país teríamos? Também não sabemos. Pior. Nesta altura não queremos mesmo saber.

Tão doloroso como ouvir o país parado a discutir trivialidades elevadas ao estatuto de causas de liberdade como as touradas e as arrogâncias sobre o IVA na eletricidade, é ainda lembrar as mágoas do PSD a remoer 2015. Como se o PSD não tivesse presente nem futuro. Como que a dizer que o melhor do PSD foi Pedro Passos Coelho. Quando olhamos para Rui Rio, de facto, a tentação é grande. Mas já ninguém aguenta. Eventualmente porque no PSD há uma fatia importante de eleitorado, no qual me incluo, que não faz vénias acríticas a Pedro Passos Coelho. A pouca liberdade que Bruxelas lhe deu, nomeadamente na gestão do problema da banca, usou-a para acelerar a sua derrocada. O estilo arrogante mais assente em convicções do que em experiência não me deixa saudades. Rui Rio também não deixará.

E Se Fosse O Rui Rio? Não sabemos bem. Sabemos sobretudo que é um chefe que já ninguém tolera quanto mais considerar líder. Sabemos que acha que a culpa da sua falta de popularidade nas sondagens é do efeito amplificador da comunicação social e da guerrilha interna. Das fake news que dizem que não deixa cair os amigos. Ficámos também a saber que não é de Rui Rio que podemos esperar banhos de ética, quando a única coisa a fazer depois da trapalhada de José Silvano era ter mão pesada com o seu líder da bancada parlamentar. Disse que não disse o que lhe atribuíram, que não deixava cair amigos. A verdade é que só não manteve os que não quiseram ficar.

O problema foi que ao PSD calhou um Donald Trump que perde mais tempo a ameaçar os que não concordam consigo dentro do partido do que a desafiar quem devia desafiar: o Governo. E no essencial. Não é nas touradas. E a baliza estava aberta para Rui Rio: o Orçamento do Estado para 2019 é austero para as famílias, é inimigo das empresas e coloca Portugal a crescer menos do que os países com quem concorre diretamente por investimento estrangeiro.

Este Orçamento é a antítese do eleitorado de centro-direita e Rio continua mais preocupado em fazer, e muito mal, política de café central do que em desmontar esta narrativa enganadora e engenhosa que é a da Geringonça. E a culpa não é dos media. Não é da oposição interna a Rui Rio. É exclusivamente sua. Venham as legislativas para ter o que o espera e virarmos esta página curta mas tão devastadora do PSD.