Nas últimas semanas, temos tido vários artigos nos jornais nacionais e internacionais que parecem alinhar com a abordagem republicana nos EUA, de considerar as preocupações e as práticas ambientais, sociais e de governação (ESG) das empresas como irrelevantes para o negócio, quando não prejudiciais.

Ao mesmo tempo, tivemos a confirmação de que 2024 foi o ano em que a subida da temperatura mundial ultrapassou os 1,5ºC, quando comparada com o ano base da era pré-industrial (por volta de 1800). Subida esta que, em 2015, aquando da assinatura do Acordo de Paris, se estimava que viesse a acontecer até 2100 e não já em 2024.

De acordo com o relatório Europeu da Corpenicus, publicado na semana passada, intitulado “Global Climate Highlights 2024”:

  • Cerca de três quartos dos dias em 2024 registaram temperaturas do ar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais;
  • Houve um aumento do stresse térmico, que atingiu o seu pico em 10 de julho, quando cerca de 44% do globo foi afetado por stresse térmico “forte” a “extremo”;
  • Os últimos dois anos parecem ser excecionalmente quentes devido à aceleração do aquecimento global induzido pelo homem e a uma fase invulgarmente quente da variabilidade oceânica;
  • As temperaturas globais elevadas, associadas a níveis globais recorde de vapor de água na atmosfera em 2024, provocaram ondas de calor sem precedentes e eventos de precipitação intensa, causando sofrimento a milhões de pessoas.

De acordo com o paper produzido em 2024 pelo National Bureau of Economic Research e citado pelo World Economic Forum:

  • A crise climática custa ao mundo 12% do PIB por cada 1°C de risco de aumento da temperatura;
  • Os danos causados na economia mundial, devido aos impactes das alterações climáticas identificados neste estudo, são até seis vezes superiores às estimativas anteriores, apontando para uma subvalorização genérica dos custos climáticos para as economias;
  • Se o aumento da temperatura mundial for de + 3ºC no final deste século (seguindo as atuais tendências de evolução), haverá uma quebra de 50% da produção da economia mundial. Apesar de existir algum crescimento económico, no final do século as pessoas poderão ser 50% mais pobres do que seriam se não fossem as alterações climáticas.

De acordo com um estudo produzido pela Climate Policy Initiative, sobre os custos de nada se fazer para diminuir as alterações climáticas:

  • Um aumento da temperatura de 1,5°C irá reduzir as horas de trabalho a nível mundial em 2,2% até 2030, custando à economia mundial 2,4 biliões de dólares (OIT, 2019);
  • As catástrofes relacionadas com o clima (por exemplo, furacões, inundações, incêndios florestais) foram responsáveis por 299 mil milhões de dólares em perdas económicas devido a danos em ativos e capital só em 2022 (Aon, 2022);
  • A subida do nível do mar poderá acrescentar mais 400-520 mil milhões de dólares por ano em perdas até 2100, nos cenários de aquecimento mais extremos (Depsky et al., 2022).

Se a economia e os financeiros ouvissem os cientistas, então, diria eu, que um bom gestor iria fazer tudo para evitar perdas financeiras futuras. Já não digo que um gestor pense em evitar perdas em 2100, mas sim que as tente evitar nos próximos dez anos. Na realidade, e de acordo com a Agência Europeia do Ambiente, as perdas que já ocorreram na Europa, entre 1980 e 2023, são de cerca de 738 mil milhões de euros, dos quais 162 mil milhões de euros (22%) ocorreram entre 2021 e 2023.

Assim, não consigo compreender como é que se afirma que as exigências de reporte de sustentabilidade são terríveis para a economia e para as empresas. Concordo que podem ser desafiantes, que poderão ser simplificadas, mas nos dias de hoje afirmar que a regulação europeia em matéria de sustentabilidade só traz peso às empresas, é ter uma visão de curto prazo: não só a nível empresarial, mas a nível político também.

A evolução civilizacional dá-se com desafios, dá-se quando conseguimos aumentar a justiça da economia e o bem-estar da sociedade. Não queremos, com certeza, que o filme “Mad Max” se transforme numa realidade.