A declaração unilateral de independência da Catalunha, momentos antes da decisão do Governo liderado por Mariano Rajoy de acionar o art. 155 da Constituição Espanhola, não colheu ninguém de surpresa. De facto, a decisão da Generalitat de não convocar eleições antecipadas e a recusa obstinada de diálogo por parte de Rajoy sem que, primeiro, Puigdemont clarificasse que não tinha declarado a independência, não deixavam outra alternativa.
Assim sendo, a Catalunha cindiu-se. República independente versus comunidade autonómica. Uma situação insustentável e que não agrada à maioria dos catalães, como se depreende do estudo levado a cabo pela Metroscopia.
Na verdade, instada a pronunciar-se sobre a possibilidade de uma consulta com três alternativas, 46% da amostra manifestou-se no sentido de a Catalunha continuar a ser parte de Espanha, mas com “nuevas y garantizadas competencias en exclusivo”. Um valor muito superior aos 29% favoráveis à independência e aos 19% que preferem a manutenção da situação.
Estes dados já permitiriam tirar ilações, mas estas saem reforçadas quando se desce ao sentido de voto. De facto, só duas das formações políticas são maioritariamente a favor da independência: 79% da CUP e 69% da ERC. De igual forma, apenas dois partidos são favoráveis à manutenção da situação: 94% no PP e 61% no Ciudadanos. Em compensação, 91% dos eleitores do Cat. en Comú, 76% do PSC e 50% do PDeCAT desejam que a Catalunha permaneça parte de Espanha, mas com novas competências.
E o que leva os catalães a manifestar preferência pela terceira via? Certamente o facto de apenas 3% se considerarem só espanhóis e 19% só catalães. A larga maioria quer ser catalã sem deixar de ser espanhola, até porque 46% da amostra se sente tão catalã como espanhola.
Estes dados são passíveis de dividir as culpas pelas duas partes. Por um lado, os partidos independentistas não dispõem do apoio maioritário dos cidadãos catalães. Por outro, a obstinação de Rajoy e do PP – 94% quer manter a situação – não se pode escudar somente na reposição da legalidade constitucional.
O PSOE que, tal como a maioria dos partidos socialistas, está a atravessar um deserto de ideias materializáveis em propostas, não conseguiu capitalizar os diversos escândalos financeiros em que o PP se envolveu. Por isso, vê nesta irredutibilidade de Rajoy uma possibilidade para voltar a cair nas boas graças do eleitorado. Assim, procura fazer passar a mensagem de que é possível compatibilizar a unidade de Espanha com o aumento da autonomia catalã, deixando para segundas núpcias a questão das restantes autonomias.
Numa conjuntura em que o Papa pede reflexão sobre a pressão separatista, a forma como Rajoy guiar a Catalunha nesta curta fase de transição será crucial. Pena que em Espanha sejam os Reis Magos a dar os presentes. Este ano, os espanhóis e a maioria dos catalães gostariam de os receber no Natal.