Segunda-feira foi dia de Yellen, Secretária do Tesouro dos Estados Unidos, cargo exercido por uma mulher pela primeira vez, falar sobre a situação económica do país Foi importante pela dúvida sobre a evolução da inflação e suas consequências sobre a taxa de juro, questão que começa a ter impacto em Wall Street, particularmente nas cotações das empresas tecnológicas.
Com a falência da Lehman Brothers em 2008 e a crise que se lhe seguiu, foram injetados na economia pelas autoridades mais meios financeiros que em toda a história dos EUA até aí, incluindo a compra da Luisiana, o Plano Marshall e o New Deal, o Programa Espacial, as guerras da Coreia e do Vietname e a crise das “Savings and Loans” todos juntos. Esta política de suporte não parou, tornada mais necessária com a pandemia provocada pelo coronavírus.
Da taxa de juro baixa e apoios a setores estratégicos, os instrumentos foram sendo esgotados e chegou-se às políticas monetárias não convencionais, vulgo quantitative easing ou QE: a compra de ativos financeiros pelos bancos centrais, que ‘engordaram’ assim os seus balanços. A Fed passou de um stock de ativos de menos de um milhão de milhões de dólares antes de 2008 a 4,7 milhões de milhões antes da pandemia e mais de seis hoje.
A monetarização das dívidas criou condições únicas de financiamento, com taxa de juro por vezes negativa, e isto num contexto não inflacionista. Um reflexo é a subida das cotações, fruto dos agentes colocarem os montantes injetados. Mas que estará a terminar. O emprego nos EUA tem tido um crescimento invejável, estimulado pelos setores da habitação e compras online e entregas, trabalho-intensivos.
A taxa de desemprego está em 6,3%, aproximando-se dos 3,5% de antes desta crise. Yellen bem pode dizer que quatro milhões de americanos estão em casa a tratar dos filhos, pondo a taxa real próxima de 10%, que a dinâmica está lá. E ainda só estamos a ver o começo, vêm aí os 1,9 milhões de milhões de dólares de Biden. Para já, a taxa de juro dos títulos do tesouro subiu para 1,35% (era 0,5% em agosto) e a 10-year breakeven rate, proxy da inflação esperada, está em 2,2%.
Um dia destes a Fed vai ter que começar o wind down do QE, e absorver liquidez para evitar uma inflação excessiva, o que fará subir a taxa de juro. Nessa altura vamos poder apreciar a arte dos banqueiros centrais.
Parece surpreendente que Yellen tenha falado da bitcoin, que tratou de moeda ineficiente e aplicação especulativa. É verdade, mas será alternativa atraente se o dólar perder continuamente valor (Musk comprou 1,5 mil milhões dela). E deixarmos de usar moeda é o fim da política monetária como a conhecemos, como as compras de títulos orquestradas nas redes sociais são um ataque a Wall Street. A era dos ‘Lords of Finance’ pode estar a chegar ao fim, entramos na da psicologia de massas (nos dois sentidos da palavra massa).