Michael Cohen, o ex-advogado de Trump (ser ex-qualquer coisa de Trump está a tornar-se banal), pagou a uma firma de serviços informáticos para postar tweets onde se dizia que ele é sexy. Depois de toda a história dos hackers russos e das trapalhadas nas eleições americanas, sabemos onde foi ele buscar a ideia.

Relata o Guardian que um dos tweets diz que ele é um “sexy pit bull terrier with a fantastic smile”!  Mais uma fake news, e de um novo tipo de news, em que a primeira palavra do par tem grafia e pronúncia semelhantes, mas não iguais, a fake. Ainda por cima, deu à conta no Twitter o colossal nome (conta o Wall Street Journal) @womenforcohen. Só não se pode dizer que o rei vai nu porque até podia parecer verdade.

Outro aspeto curioso é que Gauger, o dono da empresa contratada por Cohen, diz que não recebeu os 50 mil dólares prometidos (se parece exagerado, a missão era árdua), apenas recebeu 12 mil num – note-se bem – saco azul da Walmart. Acertou na cor, mas não um saco de papel?

Digamos que Cohen tem desculpa. Se ninguém diz que ele é sexy, não o podemos censurar por fazer pela vida. Quantas pessoas conhecemos que se gabam constantemente de ser os maiores em muitas coisas? Disse John Ruskin que um homem embrulhado em si próprio faz um pacote pequeno. Talvez seja verdade, mas é melhor que pacote nenhum.

Reza o adágio que aos 17 anos preocupamo-nos com o que os outros pensam de nós; aos 40 não queremos saber do que os outros pensam de nós; aos 60 descobrimos que os outros sempre se estiveram nas tintas para nós. Vai daí, Cohen apenas quis ser como os seus amigos políticos, que nunca passaram dos 17 anos. Dão razão a Gelluck, que dizia que os jovens são uma cambada de imbecis, e ficam piores com a idade.

O que esta gente ignora é que a linha entre a auto-promoção ‘tasteful’ e a gabarolice pura é muito fina, com consequências devastadoras. Loewenstein, Scopelliti e Vosgerau mostram no seu “Miscalibrated Predictions of Emotional Responses to Self-Promotion” que exageramos na perceção do orgulho dos outros num feito nosso que estamos a relatar, que é então tomado por gabarolice e desqualifica quem fala. Peggy Klaus explica como fazê-lo com classe: é ser outro a contar as nossas virtudes – precisamente o que fez Cohen, portanto ele deve ter lido o livro dela, logo (Descartes dixit) ele lê.

Não se pense que Cohen é único. O narcisismo – necessidade de se sentir aprovado pelos outros, insegurança, fixações, impossibilidade de sentir compaixão – é uma caraterística dos políticos e da sua entourage, que o adquire por osmose. Os Roosevelt formam, junto com Jackson e Kennedy, o top 5 dos presidentes americanos narcisistas, liderado por Lyndon Johnson. Napoleão (ouviu falar do Complexo de Napoleão?), Fidel e Putin são outros exemplos. Isto sem contar com Trump, que tem o caso mais agudo de NPD (Narcissistic Personality Disorder). Em Portugal é conhecido um caso. Adivinhe qual.