A cada dia que passa avoluma-se a possibilidade de não sermos capazes de parar o aquecimento global catastrófico que nos espera ainda que para isso estivéssemos hoje mesmo dispostos a deixar de voar, andar de automóvel, aquecer as nossas casas ou ligar o ar condicionado. Contrariamente à perceção comum, o ano de 2018 foi o pior ano de sempre em emissões de CO2 para a atmosfera.

Apesar de haver países, como Portugal, onde a alteração da matriz energética está em curso, há outros, como a Índia ou a maior parte dos países africanos, onde a construção de centrais térmicas de produção de eletricidade a carvão continua sem parança. E mesmo a Alemanha viu as suas emissões aumentarem. A decisão de desativar todas as suas centrais nucleares após o acidente de Fukushima resultou no aumento de produção de energia a carvão e as emissões aumentam continuamente desde 2016.

O MetOffice do Reino Unido diz agora que nos próximos cinco anos a temperatura média aumentará 1,5 graus relativamente à verificada antes da Revolução Industrial. É já em 2023. Simultaneamente, o lençol de gelo na Antártica perdeu tanto gelo nos últimos quatro anos como nos anteriores 34, sendo agora o menor desde que há registo. O ano de 2019 anuncia-se já como o mais quente de todo o sempre no hemisfério norte, com recordes de temperatura a serem consecutivamente batidos em França, na Alemanha, na Holanda e na Bélgica. Dezassete dos dezanove anos mais quentes desde que começámos a medir temperaturas ocorreram desde o ano 2000.

Aqui chegados vamos sendo preparados a pouco e pouco para o facto de que teremos que intervir no clima para evitar o aumento do nível do mar em valores que se preveem vir a ser de entre três a cinco metros. Cidades como Nova Iorque, Miami, Rio de Janeiro ou Lisboa desaparecerão no todo ou em parte. A linha costeira portuguesa será redesenhada. Aveiro e a sua ria, Faro e Vila Real de Santo António deixarão de existir. A perda de território será substancial.

É assim que projetos maciços de “geoengenharia” se afiguram inevitáveis. A imprensa internacional vai deixando cair umas pérolas. Por exemplo, libertar na atmosfera exterior quantidades substanciais de dióxido de enxofre cujos cristais têm a capacidade de refletir a luz solar e assim fazer baixar a temperatura em um ou dois graus.

Há uns dias, o “Guardian” publicou um artigo em que um grupo de cientistas advoga a construção de uma central eólica gigante na Antártica, com 12.000 turbinas produtoras de energia para poder alimentar milhares de bombas de água oceânica que seriam transformadas em neve e aumentariam assim o lençol de gelo da zona oeste do continente gelado. A recuperação da superfície branca evitaria o círculo vicioso em que entrámos em que, quanto mais gelo derrete, menos luz é refletida para a atmosfera e mais o azul escuro do mar a descoberto absorve o calor do sol que, por sua vez, faz derreter mais gelo.

Há ainda o projeto HSS (Huge Space Shield) que advoga colocar no espaço um escudo refletor da luz solar no chamado “ponto Lagrange”, um ponto no espaço onde as forças gravitacionais relativas permitiriam “estacionar” esse espelho refletor de luz. Diz quem o concebeu que isso baixaria a temperatura em 1,5 graus. Contrariamente aos dois projetos anteriores, o HSS parece inofensivo pois não parece ter consequências permanentes no ecossistema terrestre.

Se ainda não nos lançámos por esta via a razão é apenas uma: fazê-lo poderia arrastar o abandono dos esforços de descontaminação atmosférica em curso e a alteração da matriz energética que, de todas as maneiras, teremos de enfrentar. Perante uma solução “fácil”, a humanidade provavelmente esqueceria as florestas, o gelo polar e as marés à porta de casa. Mas temos que parar. Porque, se hoje falamos do mar a subir e da terra a arder, amanhã falaremos do ar irrespirável e de uma atmosfera talvez retemperada mas tóxica à própria vida.