Esta é a minha última crónica de 2020. Um ano que, sem dúvida, ficará marcado na memória de todos. Quando as doze badaladas do último dia 31 de dezembro batiam ninguém imaginaria o cenário que iríamos viver. Recordo de, em finais de fevereiro, ter marcado presença em Paris numa assembleia interparlamentar da OCDE, onde já se falava abertamente do apenas denominado “novo coronavírus” e que as previsões feitas ainda estavam longe do “lockdown” ou do “grande confinamento”, verificado poucas semanas depois. Ninguém esperava um acontecimento desta índole e dimensão.

A situação pandémica que o nosso país e o mundo tem vindo a atravessar desde o primeiro trimestre deste ano é um daqueles acontecimentos que alteram a História e marcam a vida em sociedade. O impacto desta pandemia para a economia, para as políticas públicas e para o futuro da sociedade ainda estão totalmente por compreender e estudar. Como sempre disse, economia e saúde não podem ser separados. Certamente que a Economia, a Sociologia ou a Ciência Política irão, nos próximos anos, apresentar múltiplas teses sobres estes impactos.

É preciso substituir o ceticismo por esperança. É preciso combater o populismo das soluções imediatas. Os extremismos nascem, muitas vezes, da falta de respostas dos moderados. São necessárias respostas. Respostas onde o ótimo é inimigo do bom, mas onde tudo deve ser feito para ninguém ficar para trás. O populismo fácil cresce quando os sistemas partidários não conseguem promover renovação, igualdade, participação e transparência. É tempo também de impedir que as desigualdades cresçam mais a cada dia que passa. É tempo de acelerar as mudanças que temos de fazer e de combater as “fake news” com a verdade.

É necessário que os agentes públicos e os chamados partidos tradicionais comuniquem para aquele grosso de pessoas que trabalham horas a mais, com baixos salários e que, muitas vezes, não conseguem assegurar o futuro para os seus filhos que desejam. Esse é um campo fácil para os “vendedores de ilusões” construírem o seu caminho. 2021 vai ser, dessa forma, um ano decisivo.

A pandemia veio acelerar a transição digital e a necessária transição verde. As políticas públicas devem continuar a trilhar esse caminho, sem potenciar as desigualdades no ano de 2021. Devemos compreender que a resposta e a recuperação a esta crise são cruciais para o futuro. A vacina, as respostas das políticas públicas ou a eleição de Joe Biden são boas perspetivas para o ano que começa. Um ano em que a presidência europeia será portuguesa no primeiro semestre. Os desafios de uma resposta europeia forte, coesa, solidária e justa estão aí. Portugal é o país certo para assumir a presidência neste desígnio.

Boas festas e um ano de 2021 pleno de superação.