O otimismo é o tipo de qualidade que uma pessoa nunca pode ter de menos, pela simples razão de que não existe vantagem alguma em ser-se outra coisa. O otimista tem sempre vantagem sobre o pessimista, porque acredita que é possível superar as dificuldades e consegue manter o ânimo para prosseguir, mesmo quando as nuvens negras se avolumam no horizonte. Imaginem como seria hoje o mundo se em maio de 1940 o governo britânico fosse liderado por um pessimista. Porém, ser-se otimista não é o mesmo que alimentar falsas esperanças e não reconhecer os riscos. “Esperar pelo melhor é preparar-se para o perder; eis a regra”, escreveu Pessoa.

Vem isto a propósito do cenário macroeconómico do Orçamento do Estado para o próximo ano. O Governo espera um crescimento superior a 5%, tal como as instituições internacionais, mas todos sabemos que a realidade poderá ser outra, porque, em bom rigor, a recuperação da nossa economia não depende apenas dos portugueses. Por exemplo, ninguém sabe como será a evolução no setor do turismo, que será crucial para a nossa retoma. Portugal e outros países do sul da Europa podem demorar mais tempo a sair da crise do que a Alemanha, a Holanda e outros nórdicos, ficando numa posição vulnerável face à pressão dos mercados. Mais endividados e deficitários, com a economia a crescer abaixo do desejável, ficaríamos mais ainda mais dependentes da proteção do BCE e da boa vontade dos nossos parceiros europeus (beneficiando, provavelmente, da preocupação destes em impedir a explosão e a consequente saída do euro da bomba-relógio chamada Itália).

Dito isto, esta proposta de Orçamento do Estado tem traços de otimismo, como o referido cenário macroeconómico, mas ao mesmo tempo  prevê a possibilidade de serem necessárias medidas adicionais de estímulo, dando ao Governo margem de manobra para as implementar. No fim de contas, é um Orçamento do Estado que tem como preocupação central manter os “arames” que neste momento seguram o país. E que só faz sentido se for lido em conjunto com o plano de recuperação europeu.

Outra discussão será saber se este Orçamento cria condições para que o país saia da crise mais sustentável e competitivo ou se, pelo contrário, teremos um Estado ainda mais omnipresente e uma economia endividada e estagnada. É que, a ser assim, não há otimismo que nos valha.