Esta semana viajei para um país distante, pequeno no globo, mas cheio de si no mundo. Neste país, onde todas as pessoas são brancas, os políticos que mandam são homens, as mulheres brancas vivem de esperanças e sonhos e as negras são invisíveis, ninguém dá por elas. Não esqueçam: é um país branco.

Ó país de bravos e valentes, perfeitos heróis com mais de 500 anos, que descobriram outros mundos, mundos não-brancos, entretanto esbranquiçados à força e lei, claro está, daqueles heróis.

Que tão nobre pátria, esta! Que tão excelsos cidadãos que protegem a sua branquitude, a clareza da língua-mãe e que se deixam animar por alguma negritude. Mas lá de longe, sim?

Ó tão elevado povo cristão, que se intitula contra o racismo, mas apaga do seu espaço público todos os que não correspondam à sua imagem. Afinal, Deus é branco, não é?

Ó perfeição de terra que não se descuida e retira dos média todos os seres que não correspondam ao grupo superior, líder e dominador. Quereis melhor paraíso que este?

Não é que este país, quando vejo comentário televisivo, podia ser o meu? Sim. É um lugar onde se reúnem homens, todos parecidos uns com os outros, com mais ou menos barba, com mais ou menos sede de poder e de protagonismo, da capital (que belo sotaque!), bem-falantes (ainda que repetitivos e muitas vezes chatos e alheados, mas isso não interessa agora), todos brancos (ora, claro!), que de vez em quando lá dão umas oportunidades a meia dúzia de mulheres, numa espécie de liberdade condicionada, para dizer coisas ao país. Mas brancas, claro está!

Bem podia ser o meu país, este que se faz representar pelas elites (ou algo parecido…) que são convidadas para explicar o que se passa no burgo, pois o povo de nada sabe, mas os neoburgueses da televisão de tudo entendem. De tudo! Homens sábios, estes!

Que triste país esse. Sinto-o sempre que vejo, ano após ano, que o comentário televisivo representa um país que teima em esconder a comunidade negra e não-branca em geral dos espaços mais relevantes da atualidade.

Pois, é que aqueles são os senhores que tudo sabem, como Deus.

Pergunte-se: será que é assim que os dirigentes televisivos entendem o nosso país: de uma só cor, torna as demais invisíveis, dissipando outras perspetivas étnicas e culturais? Será? Será que tem mesmo de ser assim?

Que triste país esse, que assume como normal não diversificar as vozes, as proveniências, as perspetivas, as cores, os discursos e as expectativas.

Que triste país esse, que não se incomoda que a realidade construída pelos média seja, em grande medida, não conforme e não representativa da realidade das várias – muito diversas – comunidades que nele habitam.

Que triste país esse, que deixa emergir a todo o momento as suas raízes colonialistas, com vícios de superioridade, que mais não são do que aberrações contemporâneas.

Ó país distante e lá na pontinha da entrada da Europa, no dia em que tornares a televisão a cores uma realidade plural, diversa e integradora é que te irás tornar num país, de facto, descolonizador.

Vai demorar? Quanto tempo?