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Está em marcha petição pelo fecho dos shoppings ao domingo. Já tem mais de 37 mil assinaturas

Foi criada uma petição pública que apela ao encerramento dos grandes centros comerciais em Portugal, ao domingo. A petição “Pelo encerramento dos shoppings aos domingos” conta já com perto de 38 mil assinaturas. O objectivo da iniciativa que acaba de ser lançada é o de melhorar a qualidade de vida dos funcionários dos shoppings e dos clientes
23 Abril 2019, 16h30

A petição dirigida ao Presidente da Assembleia da República intitula-se “Pelo encerramento dos shoppings aos domingos” e pretende melhorar a qualidade de vida de centenas de funcionários que asseguram o funcionamento das lojas aos domingos. A iniciativa surgiu depois de no domingo de Páscoa  o bispo do Porto ter dito que os centros comerciais e os supermercados estarem abertos ao domingo é uma questão de “esclavagismo” laboral.

“Será que realmente precisamos de ter um shopping aberto todos os dias da semana, das 10 às 23 horas?” e “deixaríamos nós de fazer compras ou de ter em casa o necessário se os shoppings em Portugal encerrassem ao domingo?”. Estas  são as questões colocadas  no texto da petição que às 16h25 esta terça-feira, 23 de abril, contava já com 37.827 assinaturas, segundo o site oficial da Petição Pública.

Segundo a legislação, “qualquer petição subscrita por um mínimo de mil cidadãos é, obrigatoriamente, publicada no Diário da Assembleia e, se for subscrita por mais de quatro mil cidadãos, é apreciada em Plenário da Assembleia”. Ou seja,  a medida deverá agora ser discutida em breve no Parlamento.

“Deixaríamos de ir ao shopping se durante a semana ele encerrasse às 21h e não mais tarde? A resposta é Não. Não. Não”, acrescenta o texto da petição pública, cujos responsáveis salientam que “com o encerramento dos centros comerciais ao domingo, as pessoas seriam confrontadas com um novo desafio (que já acontece noutros países): passar tempo em família ao ar livre” e “fortalecer a comunicação entre pais e filhos, entre amigos, entre casais, entre conhecidos! Estimular a vida da cidade! Apoiar os comércios locais!”.

Recorde-se que em Portugal, os centros comerciais estão abertos todos os dias da semana, normalmente entre as 10 e as 23 horas. E necessitam de centenas de funcionários a fazerem horários rotativos e prolongados. A este propósito, os responsáveis da Petição sinalizam as vantagens do encerramento dos shoppings ao domingo: “estaríamos a contribuir para que os trabalhadores de shopping tenham também horários mais humanos, mais equilibrados. Há um longo caminho a percorrer na igualdade e justiça dos trabalhadores do nosso país, em todas as áreas é verdade, mas com esta medida, estaríamos a dar já um passo gigante nesse sentido”.

No texto da iniciativa defendem ainda que ninguém deixaria de frequentar estas superfícies, ninguém deixaria de comprar. “Fomos educados e habituados a ter grandes superfícies abertas 7 dias por semana, mas esta é uma medida interesseira e nada civilizada”, defendem os responsáveis pela Petição, acrescentando que “são milhares e milhões de pessoas que ao domingo se enfiam dentro dos shoppings para passear, esquecendo-se de que passear é um conceito diferente”.

 

Mais tempo em família, defende petição

Para os autores desta iniciativa, “o tempo em família é cada vez mais escasso e o único dia que está destinado para ela, acaba por ser passado de forma pouco saudável, de forma fechada”.

Com o encerramento dos shoppings ao domingo as pessoas seriam confrontadas com um novo desafio (que já acontece noutros países e a um dos factores a que nós chamamos “qualidade de vida”): passar tempo em família ao ar livre! Fortalecer a comunicação entre pais e filhos, entre amigos, entre casais, entre conhecidos! Estimular a vida da cidade! Apoiar os comércios locais!

Na Petição é dado ainda o exemplo de maior poder de compra em cidades como Lyon, em França,  e que, ainda assim, os shoppings estão encerrados ao domingo.

“Porquê? Porque eles dão mais importância aos pic nics no parque, no lago, aos passeios pelo centro histórico, ao gelado na esplanada, ao passeio de bicicleta à beira rio… todas aquelas imagens bonitas que por vezes vemos em filmes. A tal qualidade de vida”, acrescentam os responsáveis da Petição Pública, realçando que “ninguém deixará de ter a sua blusa, as suas calças ou a mala apenas porque o shopping está encerrado ao domingo”. Isto porque, concluem, “as pessoas rapidamente se habituariam aos novos horários e organizariam as suas vidas e as suas visitas ao shopping”.

 

“O novo esclavagismo”, diz bispo do Porto

Esta petição pública surgiu depois de o bispo do Porto ter defendido, durante a homilia de Páscoa, que domingo é o dia da família e que, por isso, os centros comerciais e supermercados não deveriam estar abertos. Segundo D. Manuel Linda, que critica a abertura ao domingo e considera que os países mais ricos não o fazem, está em causa  “esclavagismo” laboral e “ganância”.

De acordo com o site Ecclesia, o responsável católico alertou também naquela Missa para os “graves transtornos psicológicos do trabalhador e do fracionamento dos encontros familiares” que esta situação provoca. “Pensemos no novo esclavagismo da laboração contínua, legalmente imposta pelos novos senhores do mundo que dominam a economia e, por esta, os governos. Pensemos como os critérios dos turnos, em setores onde, para além da ganância, nada os justifica”, afirmou.

Também neste domingo de Páscoa, a cadeia de supermercados Lidl optou por não abrir nenhum estabelecimento para que os funcionários aproveitassem o dia em família. A medida foi aplaudida por milhares de pessoas nas redes sociais  Já as lojas Pingo Doce, Continente e Jumbo abriram, mas encerraram mais cedo do que o horário habitual.

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