“Estão a ser usados fundos europeus para comprar autocarros elétricos chineses”, acusa presidente da ACAP

Entre a fábrica da CaetanoBus em Vila Nova de Gaia e a sede da STCP no Porto distam apenas oito quilómetros.

Mas a empresa pública de transportes do Porto vai comprar 48 autocarros elétricos a uma empresa que fica localizada a mais de 9.700 kms de distância em Shandong, na China.

Efeito da globalização é certo, mas para a indústria portuguesa de produção de automóveis trata-se de “concorrência desleal”, pois os contratos públicos não têm em conta a produção nacional e europeia.

A Zhongtong Bus (ZT Bus) venceu o concurso público lançado pela STCP para os autocarros e para a instalação da estação de carregamento num valor total acima de 19 milhões de euros.

“Com concorrência desleal não conseguimos competir”, dispara José Silva Ramos, presidente da Associação Automóvel de Portugal (ACAP). “Estão a ser usados fundos europeus para a importação de autocarros chineses”.

“A indústria não está a ser protegida. Cumprimos todas as normas ambientais, queremos ter a certeza que isso acontece” com os autocarros produzidos fora da Europa, e se “não há dumping”, disse, referindo-se à prática comercial de vender produtos abaixo do preço de produção para deixar as empresas europeias sem hipótese de competirem.

Os 20 milhões de euros do concurso são parcialmente financiados em 8,4 milhões de euros pela componente de Descarbonização dos Transportes Públicos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

O também presidente da Toyota Caetano Portugal, a dona da CaetanoBus, destacou que assim é impossível as empresas serem competitivas nos concursos.

“Não ganhámos porque não fomos competitivos. E tem um custo de transporte que até está mais caro”, afirmou hoje José Silva Ramos num evento da ACAP em Lisboa, referindo-se ao concurso da STCP.

O gestor garante que o mercado de autocarros elétricos está a ser invadido por modelos produzidos na China, Índia e Turquia questiona se os componentes destes veículos cumprem as normas europeias.

Por sua vez, o secretário-geral da ACAP destacou que “não há nada nos concursos públicos que protejam a indústria nacional e europeia”, segundo Hélder Barata Pedro.