Hoje em dia, não dependemos apenas do instinto para tomar decisões ou formar a nossa opinião. Temos números. Muitos deles decorrem de estatísticas. Por exemplo, medimos a esperança de vida, a literacia e a iliteracia, o PIB per capita, etc… A taxa de desemprego, nomeadamente, é um dos dados estatísticos mais relevantes na formação de políticas públicas. É por isso que, se a taxa de desemprego dispara ao longo do mandato de um primeiro-ministro, as chances da sua reeleição são baixas.
A estatística alterou substancialmente a forma de fazer política. Ela permite aos políticos medir um problema de forma exata, sem influência ideológica ou de opinião. Permite também estabelecer uma ordem de prioridades e alocação de recursos. Fazer política sem estatísticas seria o equivalente a voar na noite escura, sem instrumentos de bordo ou luzes em terra para nos guiar. Em 2015, por exemplo, ocorreram mais de 426.000.000.000 de transações por cartão de crédito. Imagine-se a informação que daqui se pode extrair. Quanto dinheiro foi gasto? Qual o valor médio por transação? Quanto nos mercados emergentes? E nos EUA? Tudo podendo resultar num quadro exato da realidade. Por tudo isto, a estatística é hoje um instrumento central da política.
Mas as estatísticas também podem ajudar a distorcer a realidade. Por exemplo, na semana passada soubemos que a taxa oficial de desemprego de 8,5% seria antes de 17,5% se aos desempregados oficiais juntássemos os chamados “desencorajados” e todos aqueles que apenas conseguem uma ocupação em part-time mas procuram um emprego a tempo inteiro.
Donald Trump, em campanha, afirmava sem pudor que o desemprego nos EUA era de “mais de 40%”. Absurdo? Bem, a realidade é que a taxa de emprego nos Estados Unidos é de cerca de 60% portanto… 40% dos Americanos não trabalha. É claro, a medida é grosseira. Há os reformados, os que optam por não trabalhar para cuidar de filhos ou familiares, ou mesmo os milionários que vivem de rendas. Portanto, sendo numericamente correto, o número de Trump é conceptualmente errado. Aliás, hoje em dia, Trump gaba-se de taxas de desemprego historicamente baixas, pouco acima dos 4%! Será?
O Departamento de Estatísticas de Trabalho dos EUA publica não uma, mas cinco estatísticas de desemprego. Os 4% de Trump correspondem à U-3, que apenas conta as pessoas que procuraram trabalho ativamente nos últimos 30 dias! A U-6, por exemplo, acrescenta a este número os já mencionados desencorajados e os que, trabalhando a tempo parcial, continuam à procura de um trabalho a tempo inteiro. U-6 é agora de 8,6%, mais do dobro da U-3. Mas, se procurarmos saber quantas pessoas entre os 18 e 55 anos não trabalham nos EUA, esse número é superior a 20%.
O meu ponto é simples. Sempre que alguém citar uma estatística, tente saber um pouco mais. As estatísticas, como muitos outras matérias de facto, são produto de uma opção conceptual.
Convém vermos e estudarmos outras que a sociedade moderna nos disponibiliza. A opinião informada tem que ser formada. E depende de cada um de nós chegar à verdade mais ampla. E poder formar opinião.