“Pai, quando me dizias que, na Universidade, iria passar os melhores momentos da minha vida, estavas exatamente a referir-te a quê?”. Pergunta real da vida real, de uma filha para um pai em momento de pandemia. Ironicamente, a questão descambou para um misto de preocupação e de ironia. Os melhores tempos da juventude estão a ser passados no Zoom, no Teams ou no Skype?

Do que estamos a falar? De esperança. Da esperança que um jovem tem em viver a vida com condições efetivas para que tal aconteça. Se a situação já se revelava preocupante, é natural que, no contexto atual, os jovens se questionem sobre as verdadeiras condições em que viverão a vida que pretendem construir.

Com a inversão da pirâmide etária e a drástica redução da taxa bruta de natalidade, a Europa tem vindo a assistir a uma dramática redução do número de jovens. Para uma média de 9,5 bebés por mil habitantes na União Europeia, Portugal registava 8,5, quando na década de 60 do século passado, esse indicador era dos mais altos do Continente Europeu (24,1). Não chega para repor a população que vai envelhecendo, mesmo com o aumento da esperança média de vida.

E a situação afigura-se tanto mais grave quando comparamos diferentes regiões. A clivagem entre litoral e interior é gritante. Há regiões que apresentam uma rotura demográfica angustiante: Alcoutim, por exemplo, apresentava um rácio de 112,9 indivíduos não ativos por cada 100 indivíduos em idade ativa. Uma situação extrema, mas reveladora do estado a que chegou o país no que à gestão da demografia diz respeito.

Num recente inquérito promovido pela Organização Internacional do trabalho (OIT) junto de uma amostra representativa de jovens trabalhadores estudantes a nível mundial, os resultados apontavam para os efeitos negativos da pandemia sobre a transição da escola para o trabalho. Acresce que mais de 50% dos inquiridos afirmava como provável o incremento de fenómenos de ansiedade e depressão sobre a população mais jovem do mercado laboral. Sinais que evidenciam a necessidade de focar uma atenção especial na população mais jovem, sobretudo a que se encontra na faixa pré-vida ativa.

Quando se debate a estratégia do país e, com isso, a aplicação dos financiamentos comunitários do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e Plano de Recuperação Europeu, importa dar um especial relevo e prioridade às condições a formar em dois eixos fundamentais: incentivo para a progressiva admissão dos jovens ao mercado de trabalho e a criação de condições para reequilibrar gradualmente os indicadores de dependência da população não ativa sobre a população ativa.

Uma estratégia para o desenvolvimento do país implica um compromisso de longo prazo. O que quer dizer uma ideia, um pensamento, uma esperança a mais do que uma ou duas décadas. Só quem tem uma esperança de vida ativa a, pelo menos uma ou duas décadas, é que efetivamente estará mais comprometido com a formulação estratégica e com a ambição que enunciar agora. Porque ainda vai viver dos resultados do seu compromisso, e porque os vai partilhar com os seus mais diretos descendentes.

Alguém perguntou aos mais jovens como projetam o seu país no futuro? É que este país está condenado a ser dos jovens. Porque, se assim não o for, não será para ninguém.