É comum ouvirmos que “os jovens são o futuro”. Menos regularmente, porém, assistimos a reais e efetivas preocupações sobre que legado estamos a deixar para esses mesmos jovens. Em face dos fortes constrangimentos decorrentes do surto epidemiológico de dimensão global,  pelo SARS-CoV-2, acresce que parece cada vez mais apartar-se dos nossos pensamentos (estratégicos) a clarividente (e até previdente) preocupação em torno do conceito de justiça intergeracional, em particular à luz dos alertas inscritos no Relatório Bruntland sobre “o nosso futuro comum”.

Mas atentemo-nos, para já, no imediato. Desde que, em meados de março de 2020, com o novo coronavírus, vêm sendo estabelecidas medidas de salvaguarda da saúde pública, afetando desta forma o normal funcionamento do mercado de trabalho, as estimativas mensais de emprego e desemprego também vieram refletir um agravamento de uma situação que já era deveras preocupante para os jovens portugueses.

A declaração do estado de emergência a 19 de março, que vigorou até ao final do mês de abril, ditou o encerramento temporário de várias empresas, de estabelecimentos comerciais e de restauração, de escolas… Em simultâneo, foram tomadas medidas de proteção do emprego dos trabalhadores, como, por exemplo, o lay-off simplificado. Mas terão sido estas medidas suficientes para travar o impacto sobre os jovens em matéria de empregabilidade? De acordo com os dados mais recentes do INE, a taxa de desemprego dos jovens, em agosto passado, foi estimada em 26,3%, muito acima da taxa de desemprego dos adultos (estimada em 6,9%)!

Organizações como a OIT, não têm reticências em afirmar que os jovens serão especialmente afetados pela atual crise sanitária, até porque, na sua maioria, compõem a franja da sociedade que mais rápida e facilmente é despedida (sujeitos que estão às incertezas colocadas pelos estágios precários, pelos contratos a prazo, por falsos recibos verdes ou às vicissitudes do trabalho por conta própria), com a agravante de que dispõem de um menor nível de poupanças para satisfazer necessidades mais imediatas, além de que são quem regista maior dependência dos setores mais afetados por esta crise.

Mas tão ou mais preocupante do que os impactos presentes e mais imediatos é o facto de que, mostra a história, são também os jovens trabalhadores os mais penalizados no tempo, quando ingressam no mercado de trabalho durante uma recessão. Numa altura em que se discute o Orçamento do Estado para 2021, em que foi já apresentado o Plano de Recuperação e Resiliência e em que vamos receber elevados fundos comunitários, é fundamental que ocorram mudanças estruturais nas políticas públicas, inclusive ao nível das respostas a dar aos desafios e dificuldades que os jovens enfrentam já. Estaremos à altura de garantir que este país é (também) para os jovens?