«Sou da geração “vou queixar-me p’ra quê?”» Em janeiro de 2011, data em que o grupo Deolinda estreava uma nova música, que inclui aquele verso, Portugal vivia os primeiros impactos da crise das dívidas soberanas. Uma crise que, com a entrada da troika no país em abril desse ano, abria caminho para a adopção de um pacote de medidas de austeridade que lançou muitas  pessoas para o desemprego.

“Sou da geração sem remuneração./E não me incomoda esta condição./(…) Já é uma sorte eu poder estagiar./(…) E fico a pensar:/Que mundo tão parvo,/Onde para ser escravo/É preciso estudar”: dizia ainda a canção, que continua actual. Com efeito, os resultados de um estudo demonstram que o perfil mais vulnerável a choques corresponde a jovens entre os 25 e os 34 anos. E se, para muitos jovens nos seus 20 anos esta é a primeira crise socioeconómica que vivem, para quem está na casa dos 30 anos este é o segundo golpe depois da troika.

Em ambos os casos estamos a falar de perdas de rendimentos e impactos no seu bem-estar, na não concretização ou no adiar de projectos como o adquirir casa própria e/ou constituir família. Estamos a falar de marcas que poderão levar anos a desaparecer. Se é certo que os efeitos desta crise decorreram de uma crise sanitária, não é menos verdade que nas décadas que a antecederam não se investiu nas respostas que os jovens tanto precisam.

Num país em que se apregoa a necessidade de inverter a tendência de envelhecimento populacional, não se compreende como continuamos a impor aos jovens condições que os atiram para a precariedade. E isso é o que estamos a fazer ao permitir que, por exemplo, estejam sujeitos a um período experimental de 180 dias aquando da procura do seu primeiro emprego. Findo este período, os jovens ficam no desemprego e as empresas coleccionam estagiários.

Precisamos ainda de respostas a outras fragilidades que esta crise sanitária veio pôr mais a descoberto: a precariedade que ameaça os estudos e a sua progressão; a situação de isolamento e de medo – medo de um vírus de que os estudantes universitários se tentam defender, fechados num quarto com renda inadequadamente elevada ou numa residencial onde a segurança nem sempre é existente.  Ou o medo de ataques, assaltos e assédios de índole diversa e que têm resultado em vidas prematuramente ceifadas, à falta, imagine-se só, de uma maior iluminação dos campus universitários e áreas circundantes e/ou de mais policiamento.

Se mais não resultar, detenhamo-nos nestas palavras da Brigada Estudantil: “Estamos exaustos. Temos pouco mais de duas décadas de vida e neste curto espaço de tempo já atravessámos duas crises económicas (…), Vemos colegas a abandonarem o Ensino Superior porque não conseguem suportar todos os custos associados (…) e são obrigados a viver na precariedade para ajudarem as suas famílias”. Temos de dar um sinal claro aos jovens de que o caminho da recuperação não vai (continuar a) ser o da precariedade,  pois que foi este precisamente o que os colocou na situação de desprotecção em que se encontram.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.