Na última semana fiz uma ronda por algumas das zonas mais desvastadas pelos incêndios no ano passado e neste Verão. Iniciei o percurso no Algarve na Serra de Monchique, o mais recente incêndio de grandes dimensões, continuei a viagem até à zona de Pedrógão Grande e encerrei o périplo no Pinhal de Leiria, outrora símbolo do país e de um rei visionário, agora uma área extensa de nada, pinheiros calcinados e terreno negro. Mais de mil quilómetros de viagem depois, qual é a imagem que prevalece? Um país desolado e moribundo.
A caminho da última etapa em Leiria, recebo a notícia que a Serra de Monchique arde de novo, uma tragédia dupla. No primeiro incêndio na serra arderam 30 mil hectares, o maior incêndio a lavrar na Europa na época estival, sete dias foram necessários até ser extinto.
Mas o que vemos para além da desolação do país? Não é apenas a floresta e os terrenos destruídos, é um sentimento mais profundo. O país já não está dividido entre Norte e Sul ou por regiões. O território está dividido entre o litoral e o interior. O litoral da pujança, da especulação mobiliária e das oportunidades de emprego e o interior desertificado, envelhecido e com serviços insuficientes. Um interior com falta de hospitais, comboios e crianças.
Apesar dos esforços e incentivos de algumas câmaras municipais e o reavivar de alguns negócios ligados ao turismo, agricultura e artesanato, os serviços tendem a diminuir ou a desaparecer. Encerram hospitais e maternidades, tribunais, escolas, estações de correio e de comboios, entre outros serviços públicos. É aqui que inicia o ciclo vicioso – os serviços tornam-se desnecessários face ao número reduzido de residentes, mas é devido à falta de serviços que o interior se torna tão pouco atraente para a população mais jovem. O mesmo ciclo vicioso se pode observar com os incêndios florestais – muitos decorrem do abandono dos terrenos, e quanto mais território arde, mais pujança a desertificação ganha. Como combater este problema estrutural do país?
Mais de metade dos municípios sofreram no ano passado uma taxa de crescimento populacional negativa e a área metropolitana de Lisboa foi a única zona no país a ver a sua população aumentar.
Mesmo que as auto-estradas, os telemóveis e a internet tenham reduzido o isolamento, a verdade é que só uma verdadeira mudança de políticas para a região interior é que produzirá efeitos positivos e duradouros. Só existe uma medida capaz de gerar garantia de resultados – a aposta no tecido empresarial e industrial.
A única aposta capaz de garantir emprego, inversão do fluxo da população para o litoral, gerar emprego e potenciar a economia. Por muitos incentivos à natalidade ou isenção de impostos, sem emprego não será possível contrariar esta tendência.