As evidências indicam que o ambiente de trabalho contribui activamente para agravar quadros depressivos.
Um estudo recente da London School of Economics, salientou que a “depressão tem um enorme impacto pessoal e económico” e que a “abertura comunicacional sobre depressão no local de trabalho aumenta a produtividade”.
Um outro estudo da mesma universidade, datado de 2016, intitulou a depressão de “mal do século XXI”, e considerou-a como “responsável por uma perda de 246 biliões de dólares na economia mundial, em decorrência do absentismo e da redução da produtividade”.
Ainda segundo estimativas datadas de 2016, mais de uma em cada seis pessoas nos países da União Europeia (17,3%) tinha um problema de saúde mental, sendo que o distúrbio mais comum era a ansiedade, que se estimava afectar 25 milhões de pessoas (5,4% da população), seguida da depressão, que atingia mais de 21 milhões de pessoas (4,5%).
As estimativas mais recentes indicam que a depressão lidera a lista das doenças mais incapacitantes no planeta, sendo que 400 milhões de pessoas convivem com o quadro depressivo (85,7%) gerando gastos na casa dos 800 biliões de dólares por ano.
Relativamente a Portugal, o relatório “Health at a Glance: Europe 2018 – State of health in the EU cycle”, divulgado no passado dia 22 de Novembro, em Paris, indica Portugal como o quinto país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com mais pessoas com problemas de saúde mental (18,4%), onde os custos estimados mais elevados estão relacionados com o mercado de trabalho (menor emprego e menor produtividade), atingindo cerca de 2,9 mil milhões de euros.
O mesmo documento salienta que “os custos totais dos problemas de saúde mental nas economias da União Europeia são enormes, afectando 84 milhões de pessoas. Estes valores podem estar subestimados em Portugal, onde se presume existir estigmatização associada aos problemas de saúde mental”.
É ainda de referir que a Organização Mundial da Saúde estimava que o problema seria responsável por 9,8% do total de anos saudáveis desperdiçados pela humanidade em 2030 – estimativa que foi alcançada em 2010, duas décadas antes do previsto.
É preciso mudar a forma como a agenda política e o tecido empresarial encaram esta matéria, ainda estigmatizante, mas em crescendo, face ao que as evidências científicas têm demonstrado: os profissionais afectados pela depressão no ambiente de trabalho não só deixam de desempenhar correctamente as suas tarefas, como também representam prejuízos financeiros para os próprios, para as empresas e para o erário público.
Por isso, cada vez mais se torna evidente a necessidade de promover a saúde ocupacional com recurso a acompanhamento psicológico especializado, numa altura em que (ainda de acordo com a OCDE) Portugal é o terceiro país no mundo onde se consomem mais antidepressivos.
Trabalhadores diferentes necessitam abordagens diferentes para seguirem a trajectória do bem-estar. Até porque, na maior parte das situações, os psicofármacos não são a solução.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.