1. Não falamos de Covid-19, nem de doenças, nem de vacinas, nem de política, mas falamos de banca e de bancos. É uma incongruência baterem palmas sempre que se abre um balcão de alguma entidade financeira, para depois concluírem que não há racionalidade económica na decisão e acabarem a bater palmas quando se encerra, levando os colaboradores ao desespero. Não faz sentido a atitude dos decisores, dos agentes políticos e dos gestores empresariais.
A história merece ser revisitada depois da publicação de um estudo da responsabilidade da Roland Berger, pelo Jornal Económico, que diz que 15 mil colaboradores da banca serão dispensados em três anos.
Ora, esse número pecará por defeito se se contar o que se fez nos últimos anos, mas ainda assim arrisca ser um número curto se nos lembrarmos que em 1975 estavam no ativo cerca de 15 mil funcionários bancários, e que no pico de expansão da banca, na década de 90, chegaram ao impressionante número de 65 mil colaboradores, numa altura em que ganhou força a figura do sindicalista Delmiro Carreira.
Com efeito, para os sindicatos o que interessava era o número porque era isso que lhes dava força. E há 30 anos foi o tempo da revolução da banca, com novos sistemas de trabalho e qualidade de atendimento. E quem não se lembra das intermináveis filas à entrada do Banco de Portugal de funcionários públicos que queriam receber o vencimento, ou as filas para um atendimento simples aos balcões da Caixa. Há 30 anos fazia-se a revolução com o BCP a impor qualidade e a ganhar quota de mercado de forma galopante.
Passados 30 anos, só não vemos filas às portas dos balcões porque a Covid-19 obriga a marcações, mas regredimos nessa mesma qualidade. Hoje, para equilibrar contas com taxas de juro negativas e reduzir o “cost to income”, aumenta-se o comissionamento, encerram-se balcões e aumenta-se a carga horária dos funcionários que podem trabalhar 12 horas e só receber oito, prejudicando colaboradores e o Estado por menor recebimento de imposto e contribuições para a Segurança Social, e fazem-se acordos de saída, uma panaceia para futuras dispensas.
Pode dizer-se tudo sobre uma indústria que não se adaptou o suficiente, ou que os clientes são digitalizados e estão a mudar, ou que o crédito é concedido por máquinas, mas a verdade é que este é um setor vital e os envolvidos estão sem soluções, ou porque não são bem representados (sindicatos), ou porque há um interesse público em acabar com a atividade. Lembremos que antes do período das nacionalizações existiam mil agências bancárias, e no pico chegou-se às seis mil. Hoje haverá umas quatro mil e a tendência é para reduzir e reduzir.
O mass market que protesta irá encontrar soluções no digital. Até todos os consumidores se adaptarem decorrerão muitos e maus anos para o consumidor que vê um serviço regredir 30 anos em termos de qualidade, e para os colaboradores que estão numa indústria sem soluções.
2. O falecimento do tenente coronel Marcelino da Mata foi um acontecimento triste para todos os portugueses, quer sintam uma atração por qualquer ideologia ou pela ausência de ideologia. Marcelino da Mata faz parte da nossa história e quem a renega é um cidadão “sem chão”.