Um estudo realizado pela consultora EY, no mês de Maio, a um painel de 300 profissionais do imobiliário revela que o efeito negativo esperado da Covid-19 terá uma duração de 24 meses.

Quando muito se tem opinado e especulado sobre o impacto da Covid-19 no imobiliário, naquele que foi um dos setores que mais dinamizou a economia portuguesa nos últimos 5 anos, a equipa de Real Estate da EY decidiu ajudar a esclarecer esta dúvida, tendo realizado um extenso inquérito a um conjunto de 300 profissionais do setor do imobiliário, de diferentes segmentos, localizações e atividades do imobiliário.

No que concerne ao sentimento geral do mercado, as conclusões são que os fatores que mais irão influenciar a localização futura do investimento são a robustez do mercado doméstico e as medidas de proteção e segurança implementadas para prevenir uma futura crise.

Ao nível dos efeitos esperados na confiança dos negócios e nos investimentos planeados, a maioria dos inquiridos considera que haverá uma ligeira diminuição do nível de confiança, mas não haverá alterações nos planos de investimento, apenas uma suspensão temporária.

Metade dos inquiridos considera que haverá uma crise imobiliária, mas que não terá uma duração superior a 12 meses e que em 24 meses voltará a atingir-se os valores e desempenho do ano de 2019.

No segmento Residencial as opiniões apontam para uma queda da procura em 40% e uma quebra no valor de mercado das propriedades de 20% nos próximos 6 meses. Apesar desta previsão de quebra acentuada, a expetativa é que em 24 meses se retomem os níveis de 2019. Uma exceção a salientar será o segmento de luxo onde se estima que continue a existir procura (investidores estrangeiros) e os preços não devem sofrer uma descida tão acentuada.
Na componente de arrendamento as previsões são de um aumento da oferta, tanto do stock existente, como de stock novo de habitações. Uma grande parte deste aumento virá pela necessidade de alguns proprietários de alojamento local passarem o seu negócio para arrendamento de longo-prazo.

No segmento de Escritórios a opinião dominante aponta para uma redução da procura em 20%, com uma recuperação em 24 meses. Do lado da oferta estima-se um crescimento de 10%, resultado da forte procura por espaços de escritórios nos últimos 2 anos. O impacto estimado no valor de mercado destas propriedades será mais moderado, com uma descida de 10%.

No segmento do Retalho a opinião dominante aponta para um menor apetite dos investidores, com queda do investimento e do valor de mercado, sendo evidente que o impacto da Pandemia nas vendas de muitos retalhistas fundamenta a opinião de uma queda na procura de espaço. Um dos possíveis efeitos será a diminuição das áreas de venda fruto do aumento do consumo on-line, passando os espaços comerciais a serem utilizados como locais de experimentação.

No segmento Industrial o efeito da Pandemia provocou quebras nas cadeias de abastecimento, o que originou a reativação da estratégia de proximidade. Verifica-se diferentes expetativas dada a necessidade de reorganização e relocalização de determinadas indústrias, o que poderá ter um impacto moderado na procura, com expectativa de recuperação em 12 meses.

No segmento da Logística a expectativa é mais positiva, podendo ser o segmento que menos impacto terá ou, até mesmo, venha a beneficiar mais nos próximos meses, podendo observar valores de procura superiores aos de 2019. Sem dúvida será o segmento que mais beneficiará com o incremento do consumo on-line.

No segmento do Alojamento Turístico é onde se estima o maior impacto com uma quebra de 40% na procura, um decréscimo no valor dos ativos em 30%, um decréscimo de 50% no RevPAR (medida de desempenho na hotelaria) e um efeito mais prolongado durante os próximos 24 meses.

A principal conclusão deste estudo é que o impacto da pandemia terá um efeito temporário e que irá afetar de forma diferente alguns dos segmentos, por um lado o industrial e a logística serão mais resilientes, por outro lado, o retalho e o alojamento turístico terão um efeito mais duradouro e uma recuperação mais lenta. Face ao bom desempenho de Portugal nos últimos anos é importante que se continue a realizar um esforço de dinamização e captação do investimento estrangeiro.