As reacções à escolha de João Miguel Tavares como responsável das comemorações do Dia de Portugal dizem bem da atitude preconceituosa com que alguns encaram a vida pública.

De todas as reacções destaco a de uma ex-ministra do governo Sócrates. A escolha desvalorizaria o perfil académico e científico resultante do estudo e reflexão sobre as questões fundamentais da vida em sociedade, necessário para o exercício do cargo. Também alguns políticos ligados ao BE e PCP criticaram a decisão. Um deles, inclusive, chegou a sugerir falta de “respeito”(?). Não excluo a hipótese destes comentários assentarem num preconceito puramente político-ideológico.

João Miguel assume-se de direita. Fosse o escolhido o seu colega de programa televisivo Ricardo Araújo Pereira e tenho poucas dúvidas de que nenhum daqueles que agora falam se faria ouvir. Mas admito que, se assim fosse, a direita, a pretexto de que a escolha teria recaído sobre um comediante, também viria falar de falta de respeito pela comemoração do Dia de Camões.

Mas, excluindo as razões políticas, o que sobressai é a ideia de que um jornalista não está habilitado a presidir e organizar as celebrações do 10 de Junho. E que, para o cargo, bom mesmo é ser alguém com um CV académico, cultural e intelectual avassalador. Dois preconceitos.

Parece-me que um jornalista está muito mais habilitado a preparar um programa que substitua o tom cinzento que tem caracterizado, em regra, as assinaladas comemorações e pode até encontrar resposta para conferir ao evento motivos de interesse. Como sabemos o preconceito étnico, sexual, religioso ou racial, mata. O preconceito cultural, como este de entender que um jornalista não pode organizar uma festa no 10 de Junho, é apenas estúpido.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.