Tenho pensado longamente no sentido da vida e decidi que no próximo recenseamento me declararei Jedi. É a minha vocação: para enfrentar as trevas, nada como um sabre de luz, e acho o máximo despedir-me dos meus amigos com um “que a Força esteja convosco”.

Não estarei sozinho; desde que os recenseamentos permitiram indicar a confissão de cada um, cada vez mais gente se diz Jedi ou cavaleiro Jedi. Confesso que hesitei entre os dois, mas como moro num apartamento, não tenho forma nem meios de manter um cavalo. Portanto, Jedi serei. Para os mais céticos, recomendo a leitura do “Historical Dictionary of New Religious Movements”, de George Chryssides, que apresenta o Jedíismo como uma religião do século XXI, que surgiu em 2001, e descreve a sua história e princípios básicos.

Quero apenas referir que os Jedi não se opõem aos Pink Floyd, pois o Dark Side dos últimos é o da Lua, não o da Força. Há quem veja semelhanças com o Taoísmo e o Budismo, mas também quem o considere mais próximo do Druísmo celta, do pensamento platónico ou mesmo do Estoicismo.

De acordo com o recenseamento britânico, hoje há quase 400 mil Jedi em Inglaterra e Gales, depois de em 2007 Daniel Jones e o seu irmão Barney fundarem a Igreja do Jedíismo. Na Irlanda, o Central Statistics Office sonegou informação em 2011, respondendo que “we could probably tell you the number of people who have declared themselves as such, but we don’t publish it”, mas em 2016 foi obrigado a reconhecer 2050. Somos 21 mil no Canadá e mais de 14 mil na Escócia, incluindo 14 Sith, e oito são polícias. Há mais de 70 mil na Austrália, que o Australian Bureau of Statistics resolveu abusivamente classificar de “religião indefinida”; serão esbugalhados na altura própria, como foi a Death Star.

Nos EUA foi criado o Templo da Ordem Jedi em 2007; em 2015 foi-lhe concedida isenção de IRS. Na Croácia há 303, e na Nova Zelândia mais de 53 mil, 1,5% dos recenseados, o país onde há mais Jedis per capita. Na Turquia há milhares de jovens que o são e foi subscrita uma petição para a construção de um templo num campus universitário “pois o templo mais próximo está a alguns biliões de anos-luz.”

Ser um Jedi é cool. Luta-se contra as injustiças e podemos escolher a cor do sabre, azul, vermelho, verde ou roxo. Formamos uma ordem coesa, fomentamos a camaradagem e temos amigos estranhos, muito peludos ou até pegajososdiscriminação. Lutamos por todas as liberdades, até no vestir; em 2010 um dos nossos foi expulso de um centro de emprego no Essex por não tirar o capuz, mas depois foi-nos feito um pedido de desculpas formal. E combatemos a discriminação: tratamos homens e mulheres por igual, até quando andamos à pancada.

Venho, portanto, desafiá-lo a juntar-se a nós. Seja um cavaleiro Jedi, um Yoda, um Obi-Wan Kenobi ou um Skywalker. Salve este país do pântano e a Europa, o mundo e a galáxia do marasmo e perdição para que caminham. Nas próximas eleições não fique em casa, não se abstenha, vote Jedi e que a Força esteja consigo.